Com 65 anos de carreira e 118 discos lançados, Angela Maria se dá ao luxo de experimentar um novo formato. Se no início da carreira sua interpretação era acompanhada por orquestras ao vivo nos auditórios da rádio, agora a cantora viaja o país com um show intimista, registrado – em estúdio – ao lado de Ronaldo Rayol no CD Angela à vontade em voz & violão. O álbum tem produção assinada por Thiago Marques Luiz para seu selo Nova Estação e distribuição da Tratore.
O formato voz e violão é intimamente ligado ao movimento da bossa nova, que revolucionou a música brasileira “cantando baixinho”. Angela Maria é grande estrela de gerações antes dessa escola, soltando vozeirão e emplacando inúmeros sucessos na década de 1950. A bela – e extensa – história da cantora é contada com detalhes no livro A eterna cantora do Brasil, lançamento recente do pesquisador Rodrigo Faour.
Aos 86, toda essa experiência está na interpretação da artista, que gravou o novo álbum em apenas três sessões. No palco e no estúdio a sintonia da cantora com Ronaldo Rayol é bonita. À vontade os dois buscam um caminho simples e direto para valorizar o que importa: a voz ainda bela de Angela Maria.
No repertório, selecionado em dupla pela cantora e o produtor, Angela inclui músicas que nunca havia gravado como Só louco (Dorival Caymmi), Manhã de carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria) e Nunca (Lupicínio Rodrigues). Sem preocupação com épocas, passa por sucesso dos anos 70 (Retalhos de cetim, de Benito di Paula) e 80 (Codinome beija flor, de Cazuza, Ronaldo Arias e Ezequiel Neves). Também volta com músicas que já havia gravado como Lama (Aylce Chaves e Paulo Marques) e um de seus sucessos Amendoim torradinho (Henrique Beltrão).
O disco é tão simples como bonito – “à vontade” cabe bem no título. A voz de uma cantora na maturidade preserva brilho e inteligência. Aos 86 anos Angela atravessa décadas como uma das grandes damas da música brasileira.