Cantor paulistano de descendência francesa, Fábio Jorge construiu sua discografia cantando clássicos do país natal de sua mãe. Em “Connexions”, seu quarto CD, resolveu abraçar as duas pátrias: grandes sucessos da música brasileira ganham versão em francês, quase todas escritas pelo próprio artista especialmente para o projeto.
Em seu primeiro álbum, lançado em 2009, Fábio Jorge já havia ensaiado essa conexão. O cantor apresentou versões para músicas de Dolores Duran (“A noite do meu bem”) e Maysa (“Ouça”) além de dividir com a inesquecível Célia o clássico dueto de “Joana francesa”, de Chico Buarque. No segundo voltou a Dolores (“Ternura antiga”, parceria com José Ribamar), Edu Lobo e Torquato Neto (“Pra dizer adeus”) e Gonzaguinha (“Grito de alerta”).
Agora os laços são mais fortes. O recorte escolhido por Fábio Jorge é interessante e livre, indo desde um clássico da dupla Sullivan e Massadas imortalizado por Alcione (“Estranha loucura”, que já fazia parte dos shows do cantor) até uma canção menos óbvia de Tom Jobim (“Foi a noite”). Do trio tribalista Marisa+Brown+Antunes traz versão de “Ainda bem” enquanto do hitmaker da década de 80 Dalto recria “Pessoa”.
Os clássicos estão presentes com versões em francês para “Marina” (Dorival Caymmi), “Meu bem querer” (Djavan), “Só danço samba” (Tom e Vinicius) e “Travessia” (Milton Nascimento e Fernando Brant), única versão que não tem assinatura de Fábio Jorge). Em “Primavera” (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes) traz de volta a bela voz de Márcia, que não gravava há 17 anos, para um dueto. Outra participação que surpreende é com Edith Veiga em “Briguei com você, dela com Dora Lopes. Fábio Jorge considera que um dos maiores desafios no repertório foi a versão de “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius. “A música tem palavras de origem africana e procurei manter para não descaracterizar”, conta no texto que apresenta o álbum.
Produzido pelo próprio Fábio, o disco é dedicado a Cauby Peixoto, que no encarte ele chama – cheio de razão – de “o maior cantor do Brasil”. Com direção musical e arranjos divididos entre Alexandre Vianna, João Henrique Baracho e Rovilson Pascoal, o álbum tem um clima chique que liga França e Brasil, duas pátrias de forte personalidade na música popular.
“Connexios” é passo já esperado – e muito bem vindo – na discografia de Fábio Jorge. Levando a rica música brasileira para as margens do Rio Sena promove um intercâmbio cultural entre Brasil e França.
Divino, maravilhoso.