O verão de 1980/81 foi de Rita Lee e Roberto de Carvalho. Com hits como “Lança perfume” a dupla conquistou FMs, AMs, TVs, pistas de dança no Brasil e no exterior. Comemorando 40 anos de lançamento do álbum que traz clássicos fundamentais do pop brasileiro, a Universal Music põe no mercado uma luxuosa edição em vinil transparente.
Rita Lee é um caso único na história da música. Seu nome está na vanguarda em três momentos distintos. Primeiro como a explosão de cores – e de criatividade – do tropicalismo com Os Mutantes. Nos anos 70, mulher band leader, foi ela quem liderou sozinha a cena do rock brasileiro na frente de seu Tutti Frutti. Na década de 80, porém, a dupla que estabeleceu com Roberto de Carvalho extrapolou limites de qualquer rótulo, e ditou as regras do pop brasileiro elevando o nível a um patamar bem alto.
O encontro musical de Rita e Roberto é um capítulo à parte. Ao lado do marido e parceiro Rita se viu livre para voar pra onde quisesse. Ela, que nunca foi de rótulos, manteve a pele de roqueira mas pode ampliar um horizonte, ultrapassar limites que na verdade nunca existiram. A dupla Rita Lee e Roberto de Carvalho fez álbuns que podiam misturar bolero, reggae, baladas irresistíveis, bossa nova e o rock-carnaval – linguagem inventada, batizada e pra sempre marcada por eles, não tem seguidores.
Segundo disco dessa parceria o álbum “Rita Lee”, de 1980, completa 40 anos. A efeméride serve de trampolim para o relançamento em vinil de um disco que não envelheceu. Ouvir inteiro, lado A/lado B, não tem gosto meramente nostálgico. As oito músicas chegam em 2020 com o mesmo vigor, interesse e riqueza. O ambiente musical criado por Rita e Roberto permanece um jardim encantado cheio de belezas, alegria e surpresas.
A mistura humana é incrível. Durante o inverno de 1980 nos Estúdios da Som Livre no Rio de Janeiro tínhamos Rita e Roberto livres para criar, o expert Guto Graça Mello na produção e alguns dos melhores músicos do país no frisson de criar um clássico. O mago do pop Lincoln Olivetti estava presente com criatividade e sabedoria criando uma alquimia mágica. Basta ouvir os arranjos de metais que levam “Lança perfume” das melhores pistas das boates até os salões de carnaval. O bloco do “Lança” é ainda receita irresistível para animar qualquer festa.
Em pouco tempo o disco caiu nas graças do público. Hoje olhando a lista de músicas o álbum é quase uma coletânea da dupla, e até um best of da década que estava para começar: “Lança perfume”, “Bem me quer”, “Baila comigo”, “Shangrilá”, “Caso sério”, “Nem luxo, nem lixo”, “João Ninguém” e “Orra meu!”.
Do início ao fim se mantém delicioso, irresistível e sedutor. Em qualquer lugar do mundo um disco que tivesse apenas uma dessas músicas já seria considerado um grande hit. Todas juntas em um só trabalho já pode entrar no rol dos grandes clássicos da humanidade. Hitmakers absolutos, Rita e Roberto conseguem a rara proeza de fazer uma música que ao mesmo tempo é sofisticada, rica e deliciosamente pop-popular. Essa alquimia está aí.
A mistura que tem rock, pop, disco, marchinha e temperos latinos ganhou o mundo. Figurou na parada da Billborad, conquistou América Latina, Europa e Estados Unidos. O aroma de “Lança perfume” chegou longe. Se para os brasileiros a letra tem a elegante saliência explícita, em outros países a alquimia da voz de Rita Lee ecoando “Laaaaaançaaaa” em um delicioso carnaval pop conquistou pela sonoridade. A letra tem versão até em hebraico e ganhou versões desde Gloria Estefan até Henri Salvador.
Quarenta anos depois o disco que não envelheceu e atravessou essas décadas encantando, divertindo e apaixonando, está de volta ao formato original: um vinil comemorativo que não vem para lembrar nada, já que nada foi esquecido. Um disco que vem pra comemorar, aumentar o som e deixar a certeza que essa festa nunca acabou.
Para ouvir e cantar junto, bem alto. “E quanto mais o roque rola mais a gente gosta”