Se para os desinformados o nome de Vanusa está associado a uma piada, a história guarda o talento de uma ótima cantora. Enquanto não chega seu novo trabalho, produzido por Zeca Baleiro, Vanusa ganha retrospectiva em duas caixas com quatro CDs cada. Editado por Marcelo Fróes para seu selo Discobertas, a retrospectiva faz justiça ao talento da artista.
A cuidadosa edição coloca em catálogo os discos lançados por Vanusa entre 1968 e 1979, os melhores de sua carreira. A discografia irregular começa pelo namoro com a Jovem Guarda, flerta com a psicodelia e mergulha no repertório popular. Mas, mesmo atirando para vários lados, no geral fica o talento da cantora ousada e o lançamento de clássicos assinados por Belchior, Zé Rodrix e Zé Ramalho.
O primeiro box traz os discos lançados entre 1968 e 1973 – mais duas faixas de 67. O início pega a cantora flertando com os rocks ingênuos da Jovem Guarda com composições assinadas por Carlos Imperial e Erasmo Carlos (em faixa bônus de 67). Mas o destaque vem a seguir com o álbum lançado em 1969. Ousado, o disco flerta com o rock psicodélico e com o suingue da black music e tem direção artística assinada pelo cantor Fábio. O bom nível segue dois anos depois com outro trabalho muito interessante. O último disco dessa caixa traz um dos grandes hits de Vanusa, Manhãs de setembro.
A segunda metade dos anos 70 aparece no volume dois da coleção. No disco lançado em 1974 Vanusa traz parcerias de seu marido Antonio Marcos com Sérgio Sá, mas também inclui Hermeto Pascoal, Gordurinha e a dupla Marcos e Paulo Sérgio Valle. No ano seguinte lançou Amigos novos e antigos em que canta parcerias em João Bosco e Aldir Blanc (a faixa título), Milton Nascimento e Fernando Brant (Outubro) além de sucessos de Belchior (Paralelas) e Luiz Melodia (Congênito). Repetindo o sucesso desse disco em 77 lança pela Som Livre Vanusa 30 anos com a primeira gravação de Avôhai, ainda assinada por Zé Ramalho da Paraíba. A caixa encerra com o álbum Viva Vanusa!, lançada em 79, que emplacou o hit popular Mudanças, parceria da cantora com Sérgio Sá.
Como é de (ótimo) costume nas reedições do selo Discobertas, os CDs de Vanusa trazem as artes originais e informações disponíveis, além de faixas-bônus que valorizam ainda mais os lançamentos.
O conjunto da obra apresentado nesse painel de oito discos – e um intervalo de doze anos – fotografa momentos diferentes da carreira de Vanusa. Mas deixa a certeza do valor da intérprete, ótima cantora, que merece tem sua história ouvida além das piadas de internet. O próximo capítulo dessa carreira já foi adiantado em um single editado em 2014 e chega ao mercado com novo CD em breve.