Cantora, compositora e musicista carioca, Clara Gurjão chama atenção em seu primeiro trabalho. O CD Ela, lançamento independente com produção dividida entre ela, Kassin, Danilo Andrade e Marcelo Costa, mostra um trabalho já com digital própria, de ótimo nível.
Clara tem passagem discreta por alguns grupos, participações em projetos diversos e diplomas acadêmicos na área. Isso reflete em sua música, que não cabe em rótulos. Instigante e inteligente, Clara chega ao primeiro disco já acertando o caminho e impressiona pela maturidade. Ótima surpresa a ser descoberta ao longo das doze faixas do álbum.
Apenas duas regravações: o bolero Como fue traz ecos de Cuba, onde esteve durante uma temporada estudando os ritmos locais. A outra vem da riquíssima obra de Caetano Veloso nos anos 70. Clara descola a pouco lembrada Muito e dá um delicioso banho de juventude em sua recriação pop. “Caetano é a minha maior referência musical e artística”, revela a cantora no release.
As demais assina sozinha. Destaque para Pequenos segredos, bate papo que ela divide cheia de humor com Silvia Machete, com quem aliás tem afinidades artísticas/estéticas. Conta histórias urbanas e cria personagens em Ela e O homem e o mendigo. Paisagens de Portugal desenham Canção lisboeta enquanto em Armadilha encara um samba dolente para falar sobre relacionamentos, passando pelo tango em Rendição. Em O mundo é tentador, rapaz dá uma dica: “Nem tente bater assas se tem medo de voar”. Ela não tem.
Clara Gurjão tem humor peculiar e digital já clara na estreia. Seu álbum Ela é deliciosa surpresa. Sem clonar ninguém se impõe pela inteligência e talento. Equilibra conhecimento com talento, fazendo tudo que foi bastante elaborado parecer muito simples. Irresistível.