Há dez anos sem entrar em estúdio para gravar um novo álbum, Fafá de Belém chega feliz em 2015 com Do tamanho certo para o meu sorriso. Editado pelo selo Jóia Moderna, do DJ Zé Pedro, com distribuição da Tratore, o novo disco foca o brega do Pará nas guitarras de Felipe e Manoel Cordeiro – produtores do álbum.
Fafá nunca vestiu os habituais rótulos – e até pagou preço alto por isso. Sua discografia passa tanto por tons regionais, quanto por clássicos do fado português, neo-sertanejo e pela obra de Chico Buarque. Mas as maiores pedradas vieram quando ela se aliou ao romântico radiofônico da década de 80. Alheia a preconceitos, Fafá agora põe sua voz grande e alegre com estilo no mundo do brega paraense. A produção do álbum, segundo a cantora gravada em apenas quatro dias, também revela curiosidades: além de suas guitarras, os dois produtores assinam programações e os outros instrumentos que entram no caminho.
“Eu vou levar você pra Santarém / Eu quero que seja você, meu bem”, convida logo de cara em Asfalto amarelo, parceria de Zeca Baleiro com Felipe e Manoel Cordeiro. Nessa estrada Fafá põe sua voz na dramática Volta, composição do performático Johnny Hooker que parece ter sido feita para a voz da cantora. Sensação, aliás, que acontece outras vezes. Personalíssima e especialmente inspirada, Fafá descobre Usei você, de Silvio César lançada por Angela Maria, e liga a radiola do repertório da banda paraense Sayonara: Quem não te quer sou eu e Os passa vida. De sua terra também busca o delicioso balanço de Ao pôr do sol, de Firmo Cardoso e Dino Souza.
Irresistível é Meu coração é brega, de Veloso Dias, música que deu origem ao conceito e quase batizou o disco – e de divertido refrão que cola. Fafá também ganhou inédita de Dona Onete, Pedra sem valor, e convida na parceria de Monoel Cordeiro com Ronery: Vem que é bom. O álbum termina em clima de alegria com O gosto da vida, feita sob medida para Fafá por Péricles Cavalcanti e já gravada por ela em 1982. A música volta e seu verso continua valendo “Eu sou Fafá”, canta soltando uma de suas gargalhadas contagiantes.
Entre seu último álbum de estúdio – abraçando a obra de Chico Buarque – e o novo Fafá gravou luxuoso ao vivo, compilou raridades e lançou EPs temáticos. Mas a volta em grande estilo acontece Do tamanho certo para o meu sorriso. Em um disco inteligente e divertido, Fafá é a grande cantora que o país conheceu trazendo quitutes do Norte há exatos 40 anos. Sem deixar de ser a mesma de sempre, eis a nova Fafá.