Aos 74 anos a jaqueta de couro e as calças jeans continuam no figurino, os rocks no repertório e a alegria de estar em cena é nítida no olhar de Erasmo Carlos. A rebeldia maior agora é abrir mão de uma vasta coleção de clássicos e focar seu repertório em resgatar músicas menos conhecidas. A brasa do Tremendão agora é o DVD e CD Meus lados B, que lança por sua gravadora Coqueiro Verde.
O show nasceu de uma apresentação para o projeto Inusitados, de André Midani. Erasmo gostou tanto do resultado e da brincadeira de descobrir músicas entre seus lados B que seguiu estrada. Gravou o DVD em duas apresentações no charmoso e aconchegante Tom Jazz, em São Paulo. Para lançar o álbum escolheu o luxuoso Teatro Oi Casagrande, no Rio.
O formato é delicioso. Jogando luz nesse repertório mostra que o quilate de sua obra está além do que os rádios tocaram e as coletâneas eternizam. Contando histórias divertidas e se comunicando com a plateia, lembra composições embarreiradas pela censura como Maria Joana e O comilão, fala sobre a mistura de ritmos em Mané João e revela a briga conjugal que resultou na bela Grilos. Conta que o rock O homem da motocicleta é a preferida nos encontros de motoqueiros no Brasil e lembra que a bela A carta é muito pedida nos shows que faz pelo interior.
Erasmo também lembra presentes que ganhou de Belchior (Paralelas, lançada simultaneamente por Vanussa com final da letra modificado), Caetano Veloso (De noite na cama, presente mandado em fita K7 direto do exílio), Gilberto Gil (Queremos saber), Taiguara (Dois animais na selva suja, sobre seu casamento com Narinha) e Gonzaguinha (Nunca pare de sonhar).
Erasmo Carlos mantém a juventude na alma roqueira. Grande compositor, intérprete inquieto e doce presença, o artista tem material de sobra para montar ótimo repertório sem precisar afagar o público com os clássicos de sempre. Entre rocks rebeldes e românticos sem cair no clichê, Meus lados B é convite para mergulho mais profundo no discografia do artista.