Em premiere no Festival do Rio, o documentário Cássia, de Paulo Henrique Fontenelle, emocionou e divertiu a plateia de convidados na noite dessa segunda-feira (6 de outubro de 2014). Com imagens raras e inéditas, entrevistas e trechos de shows, o roteiro pinta um quadro da vida e da carreira de Cássia Eller. O diretor – mesmo de Loki sobre o mutante Arnaldo Baptista – conta uma história intensa de uma artista que não se impôs limites.
Sempre associada ao rock – até por sua postura – o filme mostra que Cássia nunca se enquadrou em rótulos. Desde o início de carreira em Brasília chamou atenção e hipnotizou plateias com carisma genuíno. Fontenelle conseguiu imagens amadoras de um show em que Cássia, de vestido de gala, canta ao lado do ator Marcelo Saback no espetáculo Gigolô. Em mais imagens amadoras dessa época a cantora aparece no palco com um enorme laço na cabeça, driblando a timidez – traço forte na vida, nítida nos encontros com a imprensa, mas que ela nunca levou para seus shows.
A história é construída através de depoimentos da própria Cássia em entrevistas colhidas no acervo de emissoras como MTV (principalmente), Globo e Cultura. Fotos e recortes de jornais ilustram os depoimentos de pessoas que conviveram de perto com Cássia como Zélia Duncan, Nando Reis, músicos de sua banda, família e sua companheira Eugênia. As cenas da relação de Cássia com o filho Chicão são emocionantes e completam com um rápido depoimento dele, mostrando incrível semelhança com o temperamento tímido da mãe.
Cássia Eller tem papel importante na história da música brasileira recente. Com atitude e sem se prender a regras, nunca se acomodou ou tentou se adequar. Trouxe para a década de 90 uma imagem de liberdade que parecia esquecida já naquela época desde os anos 70. Cássia quebrou tudo, alinhou no roteiro Riachão e Nirvana, cantou ao lado de seus ídolos mas não aguentou o peso do sucesso. O ritmo frenético das turnês e longos períodos na estrada esgotaram a artista, que frequentemente largava a correria para cantar anônima em bares do interior.
O trecho que fala sobre a morte da cantora é também um tapa na mídia sensacionalista e no comércio fútil de celebridades. Depois ainda mais um capítulo difícil lembra a briga – e a vitória – de Eugênia pela guarda do filho.
Mas no geral o filme é leve, mostra a liberdade de uma artista intensa que não interpretava papéis. Se fora do palco Cássia era uma mulher tímida e de poucos amigos, quando cantava se transformava em um furacão. Cássia é belo retrato de uma artista.