Comemorando trinta anos de uma carreira plural, Marcos Sacramento se aventura em um surpreendente disco autoral. O álbum Autorretrato, produção própria lançada em parceria com a Superlativa Eventos, mostra o compositor bissexto a serviço de um ótimo cantor que dispensa rótulos.
Já com longa carreira Marcos encontrou um público maior em discos dedicados ao samba, o que pode ter o aproximado de algum rótulo que definitivamente não o limita. Curiosamente abre seu novo trabalho revelando “Eu quis o samba mas o samba não me quis!”, cortado pela guitarra de Fernando Vidal. Ao longo das treze faixas o cantor prova que a redução não faz parte de sua personalidade artística.
Marcos, que começou sua carreira discográfica em uma banda de rock flertando com a vanguarda, aqui experimenta subverter fados, boleros e baladas com tempero pop. Em primeira pessoa do singular, Sacramento assina todas as treze faixas que falam muito sobre seu cotidiano e paisagens. Estabelece parcerias íntimas com Luiz Flávio Alcofra (na já citada O samba não me quis), com o poeta português Tiago Torres da Silva (Dois rios) e Zé Paulo Bekcer (Carnaval). “Não sou um compositor que canta, mas um cantor que compõe”, define no texto que apresenta o CD.
A produção de Daniel Vasques dá a liga deixando livre a música de Sacramento. Ao lado do cantor estão seus companheiros de palco Netinho Albuquerque (percussão), Luiz Flávio Alcofra (violão) e Pedro Aune (baixo) buscando sonoridades que já vinham ensaiando em apresentações especiais, enquanto Sacramento desenhava esse repertório. Participações completam esse núcleo-base.
Autorretrato é disco que apresenta Sacramento. Muito do que está espalhado por aí em três décadas de música aparece nesse álbum autoral e sincero. Plural como ele, transparente como um artista que lida com a vida em sua obra.