Diversas vertentes da música brasileira se encontraram nessa quarta (10 de junho) no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A edição de 2015 do já tradicional Prêmio da Música Brasileira homenageou os 50 anos de carreira de Maria Bethânia. Além da própria passaram pelo palco apresentações de artistas de diversas gerações.
Coube ao ator Juca de Oliveira abrir a noite e chamar ao palco a homenageada, que foi aplaudida de pé cantando Carcará e logo engatando Os quereres, com direito a atropelar a letra traída pela emoção. Não foi problema, fez parte da energia e a noite seguiu com Fera ferida. Bethânia saiu do palco e se sentou na plateia, de onde acompanhou todo o espetáculo por muitas vezes aplaudindo de pé e visivelmente emocionada.
O show, com direção do criador do prêmio José Maurício Machiline e roteiro assinado por Zélia Duncan, somou participações de outros artistas. Alcione foi a única a quebrar o protocolo e sair do roteiro quando, no meio de uma premiação, assumiu o microfone e arrancou gargalhadas do público contando uma divertida história ao lado da homenageada.
Lenine foi o primeiro a entrar juntando em um medley Pau de arara e O último pau de arara. O segundo número seguiu com compositores mais recentes na discografia de Bethânia: começou com a delicadeza de Adriana Calcanhotto em Âmbar, recebeu o canto estranho e grave de Arnaldo Antunes em Lua vermelha e brilhou com Chico César em Estado de poesia, já com os três no palco.
Rara surpresa é uma aparição do compositor baiano Roque Ferreira, que entrou em cena ao lado de Fabiana Cozza juntando Santo Amaro, Imbelezô eu e Coroa do mar, com a força do canto de Cozza já ecoando forte no teatro. Zélia Duncan soltou a voz e interpretou Rosa dos ventos com dramaticidade que a homenageada pede. Alcione foi aplaudida em cena aberta e com o público de pé enquanto rasgava Neguee seguiu em cena com Letícia Sabatella (que leu o poema Quando o amor vacila) e com o cantor Johnny Hooker. Estranho no ninho, Johnny mostrou um excelente número interpretando Lama e interagindo sem cerimônia com Alcione. No final um dueto inusitado juntou os três artistas em um dos grandes momentos da noite.
Nana e Dori Caymmi cantaram Pra dizer adeus e depois foi a vez de Caetano Veloso, sozinho ao violão, cantar É de manhã primeira composição dele gravada pela irmã. O belíssimo disco Brasileirinho foi lembrado por Monica Salmaso e Jackson Antunes em outro excelente número. A última convidada da noite foi Mariene de Castro com uma seleção de sambas afro em belíssima apresentação que contou com bailarinos e a participação de Elisa Lucinda.
Para encerrar a noite Bethânia voltou ao palco com Explode coração. O texto emocionado do show Abraçar e agradecer coube como discurso e a deixa para, ao som de Vento de lá, juntar todos os convidados no palco do Municipal para encerrar a noite memorável.
A entrega de prêmios para os eleitos como melhores de 2014 teve festa, amor, música, amizade, poesia e arte. A noite era de Maria Bethânia, vencedora há cinco décadas de uma carreira que encontrou a maturidade em sons particulares e interioranos. A menina de Santo Amaro é dona da cena. E festejou, e agradeceu, e vibrou no nobre Municipal. Merecida festa.