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Mariana de Moraes foge do óbvio

Cantora e atriz, Mariana de Moraes já conta 30 anos de carreira enquanto lança seu terceiro CD. Em Desejo, editado pela Biscoito Fino, soma sua voz doce e pequena a um repertório refinado tratado com inteligência pela produção de Alê Siqueira e Marcelo Costa.

Neta de Vinicius de Moraes, aos oito anos Mariana participou de um show do avô no Olympia de Paris, virando sua “parceirinha”. Mas sua carreira ficou marcada no Brasil por participações no cinema, especialmente como protagonista do filme Fulaninha, de David Neves (1986). Seu primeiro CD é de 1997, registro ao vivo do show que ficou em cartaz por três anos ao lado de Elton Medeiros e Zé Renato. Em 2001 gravou álbum nos EUA, que depois foi editado por aqui. Recentemente participou de shows em homenagem ao centenário de Vinicius, mas agora o tom retrospectivo fica de lado em busca de surpresas atemporais.

Desejo tem claras referências a Cantar, antológico álbum lançado pro Gal Costa em 1974. O laço é ainda mais apertado quando Mariana relê Flor do cerrado, composição de Caetano Veloso para sempre marcada pela voz de Gal no disco. Na sequência a cantora baiana também é lembrada na mais recente Assum branco, de José Miguel Wisnik (esse também diretor artístico do disco de Mariana). Nessa faixa tem a participação de Dominguinhos, a quem é dedicada.

O repertório muito bem escolhido traz o samba Engomadinho, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, antecedendo o balanço de A mãe d’água e a menina, praiana brejeira de Dorival Caymmi. Buscando surpresas foge do caminho de sucessos para colher belezas pouco lembradas como Veleiro azul, de Luiz Melodia e Rubia Mattos, e O amor em lágrimas, de Vinicius e Claudio Santoro.

Caetano Veloso volta na releitura de Cá já, mas é mais interessante na recente Morro amor, parceria recente com Arnaldo Antunes. Wisnik também é recorrente, seja em Cacilda ou em A liberdade é bonita, parceria com Jorge Mautner que fecha o disco, caindo no pancadão bem particular, em que a eletrônica dá vez a instrumentos de percussão. Nesse bonde Mariana soma as vezes dos poetas Wisnik, Mautner e Antonio Cícero.

O samba, a bossa e os tambores afros marcam Desejo, disco de alma livre e arejada. Em tons suaves que abraçam sua voz, Mariana foge do recorrente óbvio em busca de pérolas refinadas.

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