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Mônica Salmaso abre baú de Guinga e Paulo César Pinheiro

Dezoito anos depois de que Leila Pinheiro enfrentou os dogmas da indústria do disco e gravou (com sucesso) um álbum com composições de Guinga, Mônica Salmaso volta ao autor em Corpo de baile. Se Leila focou seu Catavento e girassol em parcerias com Aldir Blanc, Mônica buscou na gaveta letras do poeta Paulo César Pinheiro para seu álbum, lançado agora pela Biscoito Fino.

São músicas que estavam de lado por conta de desentendimento pessoal entre os ex parceiros. Do repertório pescado por Salmaso, a mais conhecida é Bolero de satã, lançada em 1979 no sublime dueto de Elis Regina e Cauby Peixoto. Já Leila Pinheiro gravou Noturna em 1991, e em 2003 colocou voz em Fonte abandonada, gravada em disco do próprio Guinga. Se Porto de Araújo faz parte do CD Casa de Villa, lançado por Guinga em 2007, o parceiro Paulo César Pinheiro assinou um LP em 1980 em que apresentava Quadrão.

Mas entre as 14 faixas Mônica apresenta seis belezas inéditas que estavam guardadas há quase 40 anos: Fim dos temposNaveganteCurimãRancho das sete coresSedutora e Corpo de baile. Como as demais canções (VioladaNonsense e Procissão da padroeira) são pouco conhecidas, o disco soa cheio de novidades.

Monica Salmaso é cantora de afinação precisa e interpretação solene, se posiciona como um músico estudioso em busca da perfeição. Nesse novo álbum sua voz está a serviço de arranjos assinados por artistas igualmente criteriosos como Dori Caymmi, Nailor Proveta, Luca Raele, Nelson Ayres, Teco Cardoso (que também assina a produção), Tiago Costa e Paulo Aragão. Com tratamento luxuoso com direito a cordas e sopros, a música de Guinga e Paulo César Pinheiro ganha o tratamento de gala que merece.

Nas quase duas décadas que separam os discos de Leila e Mônica, o consumo de música mudou muito – para o bem e para o mal. Os tempos são outros, a indústria já não tem força e o espaço é mais aberto para projetos dos artistas. Ponto para a arte, que respira viva apesar dos ouvidos preguiçosos. Nesse cenário brilham trabalhos de grande valor, mas de repercussão restrita.

A beleza de Corpo de baile não é óbvia. A música de Mônica Salmaso não se dá ao consumo rápido, é preciso um tempo de contemplação para embarcar no ritmo das canções. Sem perseguir referências contemporâneas, vai em busca de uma linguagem atemporal.

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