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Os anos 80 de Jorge Mautner

Pouco conhecida, a produção musical de Jorge Mautner na década de 80 é reunida em um box pelo Selo Discobertas, Anos 80 – Zona fantasma. Projeto com produção de Marcelo Fróes e textos do jornalista Renato Vieira, a caixa reúne os três discos lançados pelo artista entre 1981 e 1988, além de uma gravação inédita ao lado de Gilberto Gil.

A caixa abre com o disco de duetos Bomba de estrelas, lançado originalmente em 1981 e único da nova caixa que teve reedição em CD pela Warner em 1995. Com produção dividida entre Liminha e Chico Neves, Mautner gravou duetos com Gilberto Gil, Moraes Moreira, Caetano Veloso, Pepeu Gomes, Robertinho de Recife, Moraes Moreira, Caetano Veloso, Zé Ramalho e Amelinha.

Depois Mautner só voltou a gravar em 1985. Enquanto seus colegas de geração construíam carreiras bem sucedidas, as gravadoras fecharam o espaço para o experimental. A saída foi o mercado independente e o LP Anti Mal Dito foi editado pelo selo Nova República, com produção assinada por Caetano Veloso. Em tempos de redemocratização do país, o repertório recuperava música censurada, A bandeira do meu partido, escrita em 1958 para seu Partido do Kaos. Cinco músicas desse álbum, marcado pelo som dos teclados eletrônicos da época, fizeram parte de um álbum duplo lançado pelo selo Dabliú em comemoração aos 40 anos de carreira de Mautner.

Em 1988 foi a vez de Árvore da vida, creditado a Jorge Mautner e Nelson Jacobina. A antiga parceria está aqui no formato econômico que os artistas levavam para o palco: o violão de Jacobina e o violino de Mautner. O disco, gravado para o selo Geléia Geral de Gilberto Gil, tem metade de seu repertório inédito e outra parte com sucessos como Maracatu atômicoVampiro e Lágrimas negras (na capa creditada como Lágrimas secas).

A caixa também inclui a gravação de um show de março 1987 que permaneceu inédito até agora. Em O poeta e o esfomeado Jorge Mautner divide palco com Gilberto Gil, e acompanhamento do percussionista Reppolho. Gravado no Palácio do Anhembi (São Paulo), misturava política e a vontade de criar clubes filosóficos pelo país. De formato simples e se valendo da intimidade entre os dois, o repertório traz Rouxinol, parceria de Mautner e Gil, além de composições dos dois artistas e releituras para Noel Rosa, Ismael Silva e Lamartine Babo.

Jorge Mautner é artista genial e inquieto, que nunca submeteu sua obra aos caprichos do mercado. Enquanto na década de 80 os tropicalistas se firmavam como grandes vendedores, artistas como Mautner, Jards Macalé e Tom Zé eram deixados de lado pela indústria. O recente (e crescente) interesse pela obra desses artistas ainda guarda boas surpresas.

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