Prestes a comemorar 50 anos de carreira, Maria Bethânia lança o novo CD Meus quintais, pela Biscoito Fino. No disco a cantora busca sua infância, o povo brasileiro com suas lendas e primeiros donos. Mais uma vez o olhar de Bethânia aponta para dentro.
O quintal onde Bethânia passeia é da mesma casa que ela escolheu para criar nas últimas décadas. Um olhar que busca o interior – o dela e o do país. A cantora segue desenhando as mesmas paisagens, o mesmo quadro e ouvindo os mesmos compositores. No novo CD quatro das treze faixas trazem a assinatura de Roque Ferreira, autor que traz para ela os sons do seu Recôncavo.
Nas demais passeia pela obra de Chico César, Adriana Calcanhotto, Paulo César Pinheiro, Dori Caymmi… todos criando em seu quintal. A surpresa fica com a inclusão de uma música assinada pelo jovem compositor Leandro Fregonesi, que traz para ela Povos do Brasil. Mergulho fundo nesses povos, Bethânia canta os primeiros donos da terra em duas composições de Chico César: Xavante e Arco da velha índia. E nessa aldeia entra nas lendas com música de Adriana Calcanhotto costurada em versos de Clarice Lispector: Uma Iara/Uma perigosa Yara.
Parceria De Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, Alguma voz abre o disco evocando sons da fonte, do rio, do vento e do mar. Em par com a voz da cantora está a voz do piano de André Mehmari. Intimidade assim como acontece em Mãe Maria, composição de Custódio Mesquita e David Nasser, em que ela está ao lado do violão de Maurício Carrilho.
Livre de mercado e senhora de sua arte, Bethânia conquistou liberdade para cantar o que quiser. E assim ela faz assinando a seleção de repertório e dividindo a criação geral com o baixista Jorge Helder. Não existe aqui dessa vez a função do produtor.
Assim desenha suas delicadezas, sem ir de encontro a novidades e paixões. Bethânia não busca horizontes amplos, e sim aperfeiçoar e seguir novas formas de refletir seus temas. Tecendo o mesmo pano, Meus quintais é disco contemplativo de quem está com os olhos abertos para dentro, para sua emoção.