Em um boteco da Lapa carioca Marcos Sacramento e Aracy de Almeida se divertem, trocam confidências e compartilham músicas. É nítida a intimidade, é certo que os dois são da mesma turma.
A cena – perdida na linha do tempo – se dá CD “A rainha dos Parangolés”, que o cantor divide com o violão de Luiz Flavio Alcofra e lança pelo selo Acari Records. O clima é chique no formato voz e violão para sambas malandros que cruzam o repertório de Aracy e chegam no de Marcos Sacramento.
Ele tem na interpretação a ironia indispensável para entrar no universo de Aracy de Almeida. Alcofra traz o violão elegante e expressivo para participar desse encontro – a antiga parceria do músico com o cantor se revela na perfeita sintonia.
No disco são 17 canções pescadas do riquíssimo repertório de Araca e aqui apresentados em dez faixas (a maior parte em medleys).
A voz do morto (*) ainda está (muito) viva. Se na sua época Aracy foi a maior intérprete de Noel Rosa, agora é Sacramento quem costuma pisar nesse repertório com autoridade, leveza e humor. O compositor – onipresente – está em “Triste cuíca”, “Século do progresso”, “Pela décima vez”, “Último desejo”, “Coisas nossas”, “O orvalho vem caindo” e “Adeus adeus”. Também passam músicas de Ary Barroso, Antonio Maria, Vinicius de Moraes, Wilson Batista entre outros.
Marcos Sacramento faz sua carreira entre o resgate de grandes nomes do passado e a atenção ao contemporâneo – basta ouvir seu mais recente trabalho autoral, o ótimo “Autoretrato”. Aqui joga luz para uma grande intérprete, figura importante e pouco lembrada da música brasileira.
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* – “A voz do morto” é uma composição de Caetano Veloso feita especialmente para Aracy de Almeida cantar na Bienal do Samba (1968) e se refere ao fato dela ser constantemente associada com as composições do amigo Noel Rosa – que já havia morrido 30 anos antes.
Muito bom