Durante longas férias no Kid Abelha, Paula Toller lança seu quarto álbum solo. Em Transborda, editado pela Som Livre, a cantora tem produção do expert Liminha, com quem também assina todas as dez músicas inéditas.
Desde 1998 Paula vem alternando seus discos com a agenda da banda. Nesse novo trabalho navega nas mesmas ondas do pop, mas Paula solo tem um discurso mais adulto do que a eterna (e bem vinda) alegria adolescente do Kid Abelha. A parceria com Liminha – que também assinou os primeiros discos do Kid – reforça esse caminho. Sem surpresas, portanto, nesse novo e ótimo disco. Se no Kid Paula ajudou a formar a linguagem pop que explodiu na década de 80, agora transborda no discurso da mulher que aprimorou o talento tanto nas composições quanto no canto.
Paula abre seu disco com Tímidos românticos, uma canção de amor maduro, estável e confortável: “Cantiga leve, verão eterno / Qualquer inverno fica pra depois / Amo você, amo nós dois”. Outro lado dos relacionamentos é teoma de Será que vou me arrepender, que Paula e Liminha assinam com Arnaldo Antunes. Os questionamentos da letra, cheia de incertezas, rendeu dueto com Hélio Flanders, vocalista da banda Vanguart. Companheiro de geração de Paula, o baterista João Barone é convidado da roqueira Ohayou, que fecha o disco.
Os assuntos variam ainda entre os preferidos de Paula. A liberdade feminina é tema de Já chegou a hora. Já o cotidiano está em Seu nome é blá (composta com adesão de Beni Borja). A voz de Paula é levemente distorcida e debochada para falar de recalcados que dedicam seu tempo a destilar ódio nas redes sociais: “Patrulhinha da vida alheia / Corre veneninho na sua veia”.
Com leves guitarras, batidas eletrônicas e seus vocais característicos, nas dez faixas de Transborda Paula não buscou surpresas e nem se distanciou muito de seu ambiente. Ouvir sua voz nesse lugar íntimo é confortável para os fãs de primeira hora do Kid. Sem a emergência juvenil Paula Toller segue caminho evoluindo na estrada que ajudou a popularizar.