Dez anos depois de seu lançamento (a rigor onze anos), o projeto Eu me transformo em outras em que Zélia Duncan saia do seu repertório para mostrar o que rola em sua vitrola, ganha nova edição. Projeto que marcou o início de seu selo Duncan Discos, volta agora ao mercado em parceria com a Biscoito Fino.
Já dona de grandes palcos, Zélia surpreendeu anunciando uma temporada no simpático e belo Centro Cultural, na região do centro do Rio. Em apresentações concorridas aconteceu ali durante um mês uma prática que ficava cada vez mais constante na carreira da cantora. Zélia se transforma em outras sem deixar de ser ela. Surpreende apostando em repertórios ousados enquanto o cenário pop (que ela também frequenta com rara dignidade) se mostra sonolento.
Nesse show Zélia abre um leque de suas memórias musicais, que vão da lembrança de Elizeth Cardoso (em Doce de coco, de Jacob do Bandolin e Hermínio Belo de Carvalho) dos antigos sambas até os modernos ecos da vanguarda paulistana de Itamar Assumpção e Luiz Tatit. Esse último, aliás, assina Capitu um dos grandes destaques do projeto imediatamente adotado pelo público. No show passam músicas assinadas Dorival Caymmi, Cartola, Herivelto Martins e Tom Zé entre outros.
Zélia é acompanhada por uma banda dream team. Com direção musical (e participação nos vocais) de Bia Paes Leme, Zélia está rodeada por Hamilton de Holanda (bandolim de 10 cordas), Gabriel Grossi (gaita), Marco Pereira (violão de 8 cordas) e Marcio Bahia (bateria e percussão). O CD traz as músicas gravadas em estúdio, enquanto o DVD foi registrado no próprio casarão do Centro Cultural Carioca. Ambos ao vivo, mas sem a tradicional presença de público.
O lançamento do CD e DVD em 2004 foi uma aventura mais ousada que o show. Zélia transformava em um produto de sua carreira o show de emoções pessoais que fugia de seu repertório tradicional. Hoje Eu me transformo em outras fotografa uma ousadia de uma artista inquieta. Com essa mesma força Zélia já passeou – e continua a fazer – por outros projetos desafiadores. Seu público, acostumado a se surpreender, está de ouvidos abertos para o inusitado.