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Rita Benneditto celebra seu encanto

Depois de doze anos rodando o Brasil – com passagens memoráveis pela Mãe África e Europa – com o projeto Tecnomacumba, Rita Benneditto confirma sua fé na música. No novo álbum, o contagiante Encanto, a cantora dá continuidade ao discurso de paz do show que representa um fenômeno à parte no cenário brasileiro. O CD tem lançamento na parceria do selo da cantora, Manaxica, com a Biscoito Fino.

Rita Benneditto – que anteriormente assinava Rita Ribeiro – não faz pregações ou segrega. Sua música é de contemplação em uma festa democrática. A mensagem vai para espíritas, católicos, evangélicos, umbandistas, budistas, muçulmanos e até ateus. Para quem tem fé na música, para quem acredita que a arte pode mudar o mundo. Sem levantar bandeiras, Rita dá sua visão de sincretismo e respeito em tempos de tensão latente e violência, mas também de um líder católico que encanta pregando união e respeito.

Não surpreende, portanto, que a primeira música de trabalho do álbum seja justamente uma versão cheia de energia para , de Roberto e Erasmo Carlos. O sincretismo religioso segue em uma releitura de Jorge Benjor – compositor sempre presente no repertório de Rita – com Santa Clara clareou. E até em Estrela é lua nova, de Villa-Lobos, que ganhou costura com Bat macumba, hit tropicalista de Gilberto Gil e Caetano Veloso. A citação – generosa – faz sentido em um disco que abre com um tecno-ponto celebrando a Cabocla Jurema mas que reza na cartilha das misturas.

   No álbum, cuidadosamente produzido por Felipe Pinaud e Lancaster Lopes, as visitas somam a fala sobre união. O padre jamaicano Priest Tiger abre a versão de Extra, de Gilberto Gil. Nessa música Rita também juntou a banda Reggae B, projeto que conta com o paralama Bi Ribeiro no baixo. A guitarra de Frejat desenha novo solo em De mina, composição do maranhense Josias Sobrinho que Rita já vinha adiantando em seus shows. Mais novidades com a belíssima releitura de Água, tema de Djavan que volta na hora exata, e no balanço contagiante de Babalu.

Compositora bissexta, Rita sempre ensaiou parcerias informais colando músicas, adaptações, citações e pontos de umbanda. Mas aqui ela é parceria dos produtores em Pedra do tempo. Pinaud assina com Márcio Local a bela Guerreiro do mar. E Rita ganhou a inédita O que é dela é meu, de Arlindo Cruz, que divide vocais com a cantora.

Unindo povos e crenças, Rita Benneditto mostra nesse álbum que não faz jus ao rótulo de “cantora de terreiro” que muitos teimam em taxar. Basta ter ouvidos abertos para entender que a mensagem de Rita Benneditto é de paz e união, de contemplação e festa. E fala para todos.

Encanto dialoga com o rico blockbuster Tecnomacumba, mas também com os álbuns anteriores de Rita. A cantora vence o desafio das expectativas criadas no rastro do sucesso singular de seu show, e mostra que tem força para emplacar um projeto tão forte quanto o anterior.

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