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Sinais inquietos de Ney Matogrosso

Sempre na contra mão que desafia qualquer lógica, Ney Matogrosso aposta no novo. O repertório de seu show, já gravado em estúdio e agora lançado em DVD e CD ao vivo, abre mão dos inúmeros sucessos colecionados ao longo de 40 anos de carreira. Em Atento aos sinais ao vivo, lançado em parceria do Canal Brasil com a Som Livre, o artista aposta em músicas pouco conhecidas com roupagem pop.

O show estreou em 2013 e gerou um inquietante disco de estúdio. Seguiu na estrada e agora ganha versão ao vivo. O DVD, gravado em São Paulo, registra espetáculo de tom pop/rock e com ares de superprodução. O cenário é formado por painéis de led e iluminação caprichada assinada pelo próprio artista. No DVD a direção de Felipe Nepomuceno também foge do convencional, se esbanjando na festa de cores, luzes e projeções do show criado por Ney.

   As imagens do cenário ganham vida em diversos momentos, imprimindo ao video ares de clip como em Todo mundo o tempo todo, composição de Dan Nakagawa. Entre jovens autores Ney também busca a obra de Criolo em Freguês da meia-noite, do alagoano Pirralho em Tupi fusão e da banda carioca Tono em Não consigo e o hit-indie Samba do Blackberry.

Desviando do óbvio, Ney busca descobrir novidades no repertório de artistas já consagrados. Recria Paulinho da Viola em Roendo as unhase busca um lado B de Caetano Veloso em Two Naira FiftyKob. Canta uma mensagem urgente e violenta em Rua da passagem (Trânsito), quando dá voz a composição de Arnaldo Antunes e Lenine para tocar em um assunto atual: “Todo mundo tem direito à vida / E todo mundo tem direito igual”. Nesse cenário de novidades traz o sempre moderno – e atento – Itamar Assumpção em duas músicas: Noite torta e Isso não vai ficar assim .

A oferta dos sucessos de sempre é limitada. Logo no início Ney traz Vida louca vida, de Lobão e Bernardo Vilhena, e no final traz Amor do repertório do Secos & Molhados. Parceria póstuma de Cazuza e Frejat Poema fica no bloco final junto com Ex-amor, de Martinho da Vila. A fartura de novidades causa uma certa fadiga na plateia – desacostumada a prestar atenção – que interage com menos intensidade do que o grande show merece.

Ney é ousado, inquieto. Ao invés de apostar nas certeiras releituras de sempre, arrisca buscar novidades para oxigenar. Se a opção não rende os aplausos mais entusiasmados, Ney está ciente e firme em seu papel de quebrar paradigmas e surpreender. Sua energia é de um artista jovem disposto e curioso, atento e iluminando com olhos de farol.

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