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Um desconcerto da Filarmônica de Pasárgada

Na linha de antropofagia que vem da Tropicália dos Mutantes e Tom Zé e passa pela Lira Paulistana do Rumo e Itamar Assumpção, a Filarmônica de Pasárgada lança seu segundo CD. Rádio lixão sai pelo selo Coaxo do Sapo, de Guilherme Arantes. Pancadão, axé, pop, balada e outras levadas entram no balaio do grupo paulistano que abre mão dos rótulos para não perder uma piada.

As referências são diretas com os movimentos que aconteceram em São Paulo nas décadas de 60 e 80. Mas, rezando nessa cartilha criativa, ao mesmo tempo a Filarmônica não está aí para ser clone de nada e ninguém. Em Uma canção, que abre o disco, promove uma colagem de músicas incidentais que vai de Ciranda cirandinha a Já sei namorar. Ao longo do disco passam citações de BabyTeresa da praia Pedro pedreiro e O abacaxi de Irará.

Nesse espírito livre, apenas na sequencia inicial, recria o axé na engraçada Amor e carnaval, encarna uma Carmen Miranda em Ela é dela e cai no pancadão invertendo papéis em Fiu fiu. Um certo olho em Tom Zé passa ao longo de todo o disco. E o muso tropicalista é homenageado com a música Estudando Tom Zé, além do próprio participar em Blá blá blá, que ganhou lap steel guitar de Kassin. A lista de convidados ainda inclui Guilherme Arantes (lin drum em Muro muro Morumbi, outro funk carioca) e Tatá Aeroplano (extintor de incêndio, corneta, apito, sino e demais brinquedos em Tic tac).

Um desconcerto: Rádio lixão tem humor fino, inteligente. Sem se comportar, a Filarmônica de Pasárgada faz um manifesto antropofágico século XXI com referências e ideias próprias. Surpreendente, o álbum é um tapa de sarcasmo na sociedade careta. Não espere tocar na rádio, é para os nichos da internet povoados por neurônios inquietos.

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