Um disco de formato simples: voz e violão, gravados ao vivo. Pode ser rápido e banal, mas em casos especiais pode brilhar e voar longe. “Um mergulho no nada” está nessa categoria rara e especial. O novo CD do cantor pernambucano Ayrton Montarroyos, lançado pela Kuarup, é uma obra prima.
Revelado no reality The Voice, Ayrton é dos raríssimos nomes que passaram pelo programa tendo o que dizer – além da aeróbica vocal da grande maioria dos candidatos. Sua personalidade e suas bandeiras foram hasteadas logo de cara em uma trajetória íntegra e coerente, sem concessões e nem personagens. Melhor que isso: depois da exposição massificada nada mudou. Ele se cercou de pessoas com os mesmos interesses e seguiu estrada. Hoje seus projetos são capitaneados pelo produtor Thiago Marques Luiz, nome atrás de grandes discos e shows de música brasileira nos últimos anos.
O fato é que o novo álbum confirma o que não é surpresa: Ayrton Montarroys é intérprete genial, cantor de afinação perfeita, emoção na voz e atenção ao texto. Acompanhado pelo violão de sete cordas de Edmilson Capelupi, passeia sem excessos em ambiente límpido. Está tudo claro para quem ouve.
Ayrton Montarroyos é intérprete que foge do óbvio e a seleção de seu repertório é feita com cuidado e critério. O álbum abre com “Pé na estrada”, parceria de Ylana Quiroga com seu irmão Yuri Queiroga. A música, gravada com metais no ótimo álbum que Ylana lançou em 2017, volta aqui em outra atmosfera, outra força, outra luz. Nas dez faixas Ayrton não evita os clássicos, como “Brigas nunca mais”, de Tom e Vinicius; “Açaí” de Djavan e “Cálice” de Chico Buarque e Gilberto Gil. Também mostra descobertas fantásticas fora do lugar-comum, caso de “Dona Divergência” de Lupicínio Rodrigues e Florisberto Martins e “Sodade matadeira”, de Caymmi. E volta aos contemporâneos em “Jabitacá”, de Junio Barreto, Lirinha e Bactéria, já conhecida com Gal Costa.
O fio condutor é a interpretação precisa, inteligente e emocionante de Ayrton ao lado do violão igualmente aguçado de Capelupi. “Um mergulho no nada” é emocionante álbum que não se presta ao consumo rápido. É uma jóia lapidada para ser apreciada aos poucos, com calma e atenção. E encanta por seu brilho.
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foto: Luan Cardoso
Concordo plenamente com a crítica tercida acima. Montarroyos é uma grata surpresa de nossa memorável MPB. Desde que o ouvi pela primeira vez, tive a certeza de está diante de um fabuloso intérprete. Os graves de sua voz me causam arrepios! É impressionante como ele trabalha sua interpretação nessa região. Não esperava mesmo dele. Sucesso sempre!!!