Zélia Duncan e Zeca Baleiro irmanam repertório e afinidades em show que está percorrendo o país. Na passagem pelo Rio, em duas apresentações com ingressos esgotados no Theatro NET Rio, mostraram um sarau de formato simples mas com muitas ideias e referências.
Quando estão no palco, Zélia e Zeca não são apenas dois cantores-compositores de sucesso. São também artistas que buscam no “arquivo sentimental” (na definição deles em cena) informações importantes para alimentar o interesse de um público variado. Fora de cena tanto Zélia quanto Zeca se desdobram escrevendo, produzindo, participando e endossando outros bons artistas, revelando novos e resgatando antigos. Por isso o encontro dos dois – em algum lugar no meio dessas múltiplas atividades – já era esperado.
E tudo acontece em ambiente íntimo. Em cena apenas eles e seus instrumentos: Zélia com violão e bandolim, Zeca alternando violões e brincando com um ukelele. Para o repertório prepararam parcerias inéditas, sendo uma delas com letra do novo-baiano Galvão: Fox baiano. Primeira dobradinha dos dois, Se um dia me quiseres gravado por ela em 2009, também entra. Do repertório tradicional de Zeca entram Quase nada, Babylon e Bandeira, de Zélia aparecem Nos lençóis desse reggae, Me revelar e Catedral.
O passeio afetivo pelo passado vai de Curare (Bororó) até Opus 2 (Antonio Carlos e Jocafi), passando por Grilos (Roberto e Erasmo), O amor é velho e menina (Tom Zé), Eu queria ela (Riachão), A natureza das coisas (Accioly Neto) e Coração aprisionado (Luhli e Lucina). Um dos momentos mais divertidos fica com a interpretação de Zélia pra Mulheres (Toninho Geraes), que dedica a Zeca: “Nenhuma deles me fez mais feliz do que você me faz…”.
Em duas horas de conversa, música e leveza Zélia e Zeca não se prendem aos sucessos e voam com novidades e boas lembranças. Os dois artistas não acomodam seu público e estão sempre apresentando novidades, isso já é esperado. Juntos no palco, enfatizam esse compromisso com diversidade e inteligência. Percorrendo o Brasil com sucesso, o encontro merece um registro.
foto: Alexandre Moreira