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O protesto dos Titãs

O Titãs está de volta ao rock com guitarras pesadas, bateria forte, baixo nervoso e letras urgentes. Levanta cartazes nessa passeata de 12 inéditas e uma releitura. Com cores mais pesadas que do controverso disco anterior, o grupo surgido na década de 80 lança Nheengatupela Som Livre.

O grupo, que já teve oito integrantes e hoje é um quarteto, nunca teve preocupação com mudanças. Nasceu na Lira Paulistana relendo o rock iê-iê-iê, fez fama na new wave, flertou com o pop, brincou o mega-sucesso com clima de luau acústico. A nova fase remete ao grande clássico Cabeça dinossauro – aliás relido há dois anos em shows, reedição e novos DVD e CD – e outras fases roqueiras. Agora que o Brasil parece estar com raiva acumulada e vontade de discutir assuntos fortes, os Titãs não se poupam a abrir, expor as feridas em Nheengatu, que tem produção assinada por Rafael Ramos.

A bola está em campo. Assuntos como pedofilia, exploração da fé, machismo, drogas, preconceitos, violência do Estado estão nas 14 faixas do CD. A crônica dos Titãs está atualíssima refletindo um país que emburrece, retrocede. Impossível não lembrar de cenas lamentáveis, recorrentes em uma arena da idade média com gramado verde e logo explorada comercialmente: “Te chamam de macaco – quem são os animais?”. Todos somos Titãs.

“Não pode entrar aqui / Não pode falar / Não pode subir aí / Não pode gritar”. A realidade crua das letras incomoda, fugindo do padrão atual das rádios de festa, alegria e refrão chiclete sem sabor. Muita coisa para pensar pensar. Até por isso faz sentido que a única regravação do álbum seja para o clássico-indie Canalha, de Walter Franco: “É um grito que se espalha / É uma dor canalha!”.

O novo disco dos Titãs se une aos protestos que desde o ano passado entraram para o dia-a-dia das grandes cidades brasileiras. Muita raiva, muitas questões, muitos argumentos e muitas cobranças. O grupo joga assuntos pertinentes em voga, levanta suas faixas e vai para as ruas. A capa traz a famosa Torre de Babel, retrato de um país em que ninguém se entende. Atualíssimo Nheengatu.

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