Arquivos

Pedro Miranda traz o frescor dos velhos sambas

Cantor revelado na geração da Lapa carioca, Pedro Miranda chega ao terceiro CD solo com Samba original, produção independente com distribuição da Tratore. No disco traz uma seleção interessantíssima de descobertas nada óbvias. Intérprete de graça e ginga, Pedro Miranda entende desse riscado.

Os versos “Meu samba é um samba diferente / Pois de fato minha gente / Ele é muito original” abrem a seleção de 12 delícias. A música, composição de Elton Medeiros e Zé Keti, batiza o disco e traz a pista para o que vem a seguir. Entre grandes nomes do samba e outros injustamente menos lembrados, Pedro Miranda nunca segue o caminho dos clássicos. Sua rica pesquisa busca o inusitado, trazendo novidades com mais de 50, 70 anos. O mestre Ruy Castro resume: “Pedro Miranda é a prova de que o samba tem um grande passado pela frente”.

Navegando nesse samba vintage Pedro descobre a Garota dos discos, cantada no balcão da loja, de Wilson Batista e Afonso Teixeira. Desfila Lola crioula (“na passarela”) de Geraldo Babão e Roberto Mendes. E traz até um samba do rei do Baião. Luiz Gonzaga é parceiro de Ary Monteiro em Meu pandeiro: “vou fazer serenata com o velho Noel e o Nazareth”. Noel Rosa, aliás, aparece com Ismael Silva e Francisco Alves em A razão dá-se a quem tem, dueto esperto com Caetano Veloso.

E Pedro ousa ainda mais fazendo esse repertório – eterno – com ares contemporâneos. Em Batuca no chão – que de cara chama atenção pela parceria de Assis Valente e Ataulfo Alves – o baticum ganha guitarras de Pedro Sá e Arto Lindsay. Ousadia do produtor e arranjador Luís Filipe de Lima, parceiro craque de Pedro na (re)criação desses sambas originais. Mesmo quando olha para compositores contemporâneos Pedro mantém o mesmo filtro. Caso de Samba de dois-dois, de Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro, e Santo Amaro, de Franklin da Flauta, Luis Claudio Ramos e Aldir Blanc.

Samba original tem frescor vintage e referências espertas. Com inteligência e malandragem, junta passado e presente com acabamento de luxo e a interpretação bem humorada de Pedro Miranda. Samba de fato, samba original. Atemporal.

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *