O Prêmio da Música Brasileira comemorou seus 25 anos na já tradicional cerimônia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Pela primeira vez a festa não homenageou um artista e sua obra, o tema celebrado na noite de 14 de maio de 2014 foi o samba. Sua história e seus heróis foram lembrados em delicioso roteiro escrito pela cantora Zélia Duncan e apresentado por Camila Pitanga e Mateus Solano.
No programa distribuído aos convidados o idealizador do evento lembra: “Quando comecei a fazer este Prêmio eu era outra pessoa, dedicado a outras atividades e a interesses diferentes. Ao longo desses 25 anos de imersão nesse universo, meu olhar e minha sensibilidade mudaram completamente. Hoje eu respiro música”, comemora Zé Maurício Machline lembrando a época em que criou o Prêmio Sharp de Música dentro da empresa de sua família. Nessa história ele já teve outras empresas patrocinadoras, e houve até um ano em o empresário teve o incentivo negado, mas nem assim deixou de realizar a festa, contando com apoio de artistas e técnicos.
A noite que celebrou o Samba no Municipal começou com texto apresentado por Gilberto Gil que, sem sair do palco, apresentou É luxo sóabrindo espaço para o duo com Mariene de Castro, com quem cantou O escurinho. Depois foi a vez da geração formada na Lapa, representadas no palco por João Cavalcanti (firme em Quem te viu, quem te vê), Moyseis Marques e Pedro Miranda. Junto os três cantaram o refrão “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar”, aplaudidos por Alcione, intérprete dona desses versos, que estava na segunda fileira da plateia.
Maria Bethânia entrou em cena para celebrar o samba de roda de seu Recôncavo. A cantora costurou um medley com composições da tradição popular com a música Reconvexo, de Caetano Veloso, com o verso que celebra a mãe dos artistas: “Quem não rezou a novena de Dona Canô”. Da Bahia para São Paulo, a sempre sensacional Fabiana Cozza dividiu com Leci Brandão medley que celebrou os nomes de Eduardo Gudin, Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini.
Na sequencia Baby do Brasil colocou sua energia na homenagem a Carmen Miranda cantando E o mundo não se acabou. Baby arrancou aplausos em cena aberta interagindo com um grupo de bailarinas vestidas como Carmen, em coreografia assinada por Isnard Manso. A cantora fez apresentação sensacional, está entre os grandes momentos da noite, mesmo insistindo em trocar na letra “rezar” por “orar”, o que não chegou a tirar o brilho. Em clima bem mais ameno, a madrinha Beth Carvalho trouxe a obra clássica de Candeia, Nelson Cavaquinho, Elcio Soares, Cartola e Elton Medeiros. Beth não poupou esforços e ficou de pé para celebrar o samba.
Primeiro encontro inusitado da noite, Criolo apresentou o compositor Riachão, cheio de personalidade e graça com sua Vá morar com o Diabo, samba que ganhou alma de rock na inesquecível gravação de Cássia Eller. A informalidade deu o tom no encontro de Arlindo Cruz (que segurou o número), Almir Guineto e Zeca Pagodinho. Atração internacional e grande surpresa da festa a cantora africana (radicada nos EUA) Angelique Kidjo arrancou aplausos entusiasmados ao lado de Péricles e um coral, celebrando as raízes do samba. Foram merecidamente aplaudidos de pé.
Para encerrar a festa a elegância de Paulinho da Viola entrou em cena com um medley juntando Onde a dor não tem razão, Timoneio e Foi um rio que passou em minha vida. Em sua apresentação Paulinho foi somando participações: primeiro o fantástico Hamilton de Holanda com seu bandolim que canta e depois a força da Bateria da Portela para fechar os trabalhos.
Apesar das polêmicas e dos que torcem o nariz, o Prêmio da Música Brasileira é a grande festa para celebrar uma arte cada vez mais negligenciada pela mídia. Ali estão artistas que merecem homenagens, mesmo que não estejam na lista de concorrentes. Afinal arte não é competição e não tem ganhadores, a música sabe disso. Quem faz música de verdade já é premiado, os aplausos da noite abraçam todos os artistas.