Arquivos

Álbum ao vivo mostra que Elza ainda vai cantar até o fim

É emocionante demais ouvir Elza Soares no álbum “Elza ao vivo no Municipal”. Gravado no sagrado palco paulistano apenas dois dias antes da morte da cantora, o álbum traz a dignidade e a força da artista que cantou até o fim – e vai continuar cantando ainda por muito tempo, mandando recados importantes. O álbum foi lançado pela Deck Disc em projeto financiado pela Natura Musical, e também gerou registro audiovisual ainda inédito.

 

O projeto, inicialmente previsto para ser gravado em 2020 no Morro da Urca, foi adiado e chega em 2022 colocando Elza como uma rainha negra em seu palácio real: o palco sagrado. Aos 91 anos Elza reina absoluta no Theatro Municipal de São Paulo em plena comemoração pelo centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Esse capítulo é a glória da vida de uma artista que brigou, se impôs, caiu, levantou e venceu tantas – incontáveis – vezes. E continua vencendo. E vai continuar.

 

O disco abre com uma versão voz e piano para “Meu guri”, de Chico Buarque. Lançada pelo autor em 1981 e retomada por Elza em 1997 – em disco injustamente pouco conhecido – a letra forte chega em 2022 ainda com seu recado válido. Na voz de Elza – carregada de emoção e história – mais ainda. Parece que foi feita para ela.

 

O repertório tem um movimento que junta no mesmo discurso músicas de épocas diferentes, todas com recados que Elza sabe passar com propriedade. Desde as recentes “Maria de Vila Matilde” e “Mulher do fim do mundo” até clássicos de seu repertório como “Volta por cima” e “Se acaso você chegasse”, passando por “Comportamento geral”, “A carne” e “Dura na queda”, mostra a artista que soube se reinventar, se manter atualíssima, atenta e forte.

 

Aos 91 anos a artista se mostra contemporânea e atenta. Seu recado não soa forçado e sua voz aparece no álbum com uma vitalidade inacreditável. Entre sambas clássicos e levadas contemporâneas, Elza junta no mesmo álbum compositores como Jorge Aragão, Gonzaguinha, Rômulo Fróes, Lupicínio Rodrigues, Zé Rodrix, Tito Madi, Seu Jorge, Paulo Vanzolini e Tulipa Ruiz. Tudo faz sentido para quem enxerga acima dos limites banais. Elza plana acima de preconceitos e regras.

 

O álbum – todo com forte tom de um perfil biográfico e confessional –  fecha com a voz rouca de Elza dando seu recado que ficou eterno: “Eu quero cantar até o fim”. E a certeza de que esse fim ainda está muito longe, e sim, ela vai continuar cantando e tendo o que dizer por muito tempo.

 

 

Assista aqui show gravado por Ziriguidum no Teatro da UFF (Niterói) em 2008:

 

Outras Postagens

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *