O formato é simples: uma cantora, dois violões, um repertório acima de qualquer suspeita. O resultado é surpreendente. A cantora Alice Passos divide seu segundo trabalho com os violonistas André-Pinto Siqueira e Maurício Massunaga. Os três se esbaldam nas composições de Ary Barroso no álbum “Ary”, lançado pelo selo Fina Flor. O disco é de uma beleza incrível, que conquista no primeiro momento. Para ouvir do início ao fim.
Os arranjos são divididos entre os três, e essa sintonia fica explícita no diálogo entre eles. Artistas com trânsito pela cenário musical carioca, o encontro na obra de Ary é terreno fértil para desfilar riquezas com propriedade e um rigor técnico que não deixa de lado a emoção necessária da música popular. “É sempre muito bom ver acontecer um acompanhamento ativo, presente e que, ao mesmo tempo, oferece ao canto o espaço necessário para que ele se espraie, e assim foi”, atesta o mestre Maurício Carrilho no texto que apresenta o álbum.
O repertório traz dez músicas, oito delas assinadas somente por Ary, como “Camisa amarela”, “Morena boca de ouro” e “Pra machucar meu coração”. A parceria com Luiz Peixoto aparece em “Na batucada da vida” e “Por causa dessa cabocla”. Em “Chorando”, Alice sai de cena para abrir espaço para um duo dos violões de André e Maurício. Sem perder o pique em nenhum momento, o álbum fecha com “Na baixa do sapateiro”, música já com diversos registros inesquecíveis, e aqui com dinâmica e personalidade que renova o interesse.
Sem nunca descuidar da beleza das interpretações, o trio aborda com respeito e intimidade a obra de Ary Barroso. O conceito que poderia render registros burocráticos, faz justiça ao rico cancioneiro de Ary Barroso com vigor e beleza.