Voz marcante do rock pop-nacional, Bruno Gouveia conta sua história no livro “É impossível esquecer o que vivi”, lançado pela editora portuguesa Chiado. O vocalista do grupo Biquíni Cavadão narra em primeira pessoa sua trajetória, enfileirando lembranças divertidas, curiosas, tristes e – sempre – sinceras.
Com texto que flui agradável Bruno lembra sua história particular, desde a infância até 2017. A história vai ser atualizada através de vídeos no Youtube que são acessados através de um QR code – aliás, todos os capítulos contam com conteúdo extra multimídia.
Quando lembra seus primeiros passos na carreira traz junto a história das bandas de rock da década de 80. O Biquíni Cavadão nunca foi protagonista nessa história e nem foi dos nomes pioneiros do BRock, mas uma banda que desde o início estabeleceu empatia e conquistou grande público com uma série de hits. A história do Biquíni Cavadão acontece um passo depois da geração de bandas como Paralamas e Titãs, que começaram mais cedo e já registraram suas memórias. Isso faz o relato ainda mais interessante.
Ao longo da primeira parte do livro, Bruno revela também um mercado musical bem diferente do atual. A própria história do Biquini Cavadão mostra uma carreira formada em passos lentos e naturais. Não havia uma meta, não havia uma estratégia, não havia um plano de conquistar o país. A estrada foi sendo construída aos poucos, a princípio em festas e movimentos escolares na zona sul carioca até chegar aos palcos do país. A narrativa acompanha mudanças na indústria, a chegada do digital e os passos (ou tentativas) das bandas para se conectar no mundo virtual – que aliás o Biquíni é um dos ativistas pioneiros.
A trajetória do Biquíni esbarra em histórias de grupos como Kid Abelha, Blitz, Legião Urbana e Paralamas do Sucesso – o nome da banda, motivo de piadas ao longo do livro, foi dado em papos informais com Herbert Vianna. Mas também esbarra na história recente do país, da indústria musical, do rock e da comunicação. Em diversos momentos Bruno dá voz a outras pessoas, que deixam um novo ponto de vista para complementar o que está sendo contado.
Com sinceridade a transparência Bruno não se poupa de momentos difíceis tanto na vida particular quanto na carreira. “É impossível esquecer o que vivi” é, no fim, um grande bate papo com uma figura carismática e com muitas histórias. É livro para os fãs da banda, mas também para quem quer conhecer a história de uma pessoa que tem muito o que contar. Também para quem quer entender a transformação do mercado de música no Brasil dos anos 1980 até aqui.