Compositor de grandes sucessos nas décadas de 1960 e 70 e muito perseguido pela censura da ditadura militar, Taiguara tem quatro gravações inéditas apresentadas no EP “Como Lima Barreto”. Lançamento do selo Kuarup em parceria com a Saravá Discos de Zeca Baleiro, os áudios foram recuperados de fitas cassetes do pesquisador musical e jornalista Marcello Pereira Borghi.
O EP abre em tom de protesto com um medley ao vivo que junta “Pra não dizer que não falei das flores” , de Geraldo Vandré, e “Voz do leste”, do próprio Taiguara. A introdução traz longa fala do artista – muito aplaudido – traçando um paralelo entre o cenário da música brasileira e a ditadura que perseguiu artistas e tentou calar a cultura. “Eu quero que esse seja um canto de vocês pra mim, mais do que de mim pra vocês”, incentiva o artista, que é atendido.
Zeca Baleiro assina a direção artística desse importante documento, comandando a recuperação do áudio original e a gravação de novos instrumentos. A inédita “Paulistana” ganhou piano, acordeon e baixo de Adriano Magoo. A música que batiza o EP é um samba-enredo feito por Taiguara para a escola de samba Unidos da Tijuca, que não foi para a avenida. A faixa ganhou violão de 7 cordas de Swami Jr, percussão de Júlio Barro e coro formado por Baleiro, Tatiana Parra, Ana Duartti, Hugo Hori e Adriano Magoo. Fechando a coleção de quatro faixas, “Ave menina” tem acompanhamento do baixo acústico de Fernando Nunes e do violão de Rogério Delayon.
Uruguaio de nascimento mas vivendo no Brasil desde a infância, Taiguara emplacou sucessos como “Hoje” e “Universo no teu corpo”. Perseguido pela censura, teve que ir para o exílio duas vezes, retornando ao Brasil já nos anos 1980 com a reabertura. Sua obra, no entanto, hoje anda esquecida e menos ouvida do que merece.