Erasmo Carlos leva seus sambas

O tremendão no ziriguidum. Um dos pioneiros do rock brasileiro Erasmo Carlos lança nesse final de 2019 o álbum “Quem foi que disse que eu não faço samba…” com oito faixas. Gravado ao vivo no estúdio da gravadora Som Livre, o disco ganha também uma série de vídeos no Youtube.

A relação de Erasmo Carlos com o samba não chega a ser uma surpresa. Um de seus maiores sucessos, lançado em 1970, é a música “Coqueiro verde”. Em sua discografia pós-Jovem Guarda o compositor abriu o leque e seu rock ganhou cores tropicais (até tropicalistas). Mas essa é a primeira vez que dedica um projeto e joga luz sob essa parte da obra e reúne seus sambas em um único trabalho.

O álbum é uma compilação desses sambas dispersos na obra. Apenas uma faixa é inédita, mas mesmo assim vem do imenso baú: “Maria e o samba” foi a primeira música de Erasmo cantada por Roberto Carlos quando fazia shows em bares do Rio de Janeiro antes da explosão nacional.

Grande parte das músicas ganha pela primeira vez o registro oficial do autor. O álbum traz surpresas pouco conhecidas da obra de Erasmo como “Sem anjo na multidão”. Gravada pelo grupo paulistano Clube do Balanço, conta a deliciosa história de uma mulher que exagerou no silicone e não foi reconhecida pelo anjo da guarda. Outra faixa divertida é “Samba rock”, que canta imitando sotaque de turista americano. Parceria com Max de Castro, “A história da morena nua que abalou as estruturas do carnaval” abre o disco: “Quanto mais a morena funkeava / A galera ensandecida queria mais / A morena enlouqueceu a bateria / E a cadência foi ficando para trás”.

Da trilha sonora da novela “O Bofe” (1973) lembra “O moço”. O álbum resgata o sucesso “Mané João”, a mais conhecida do repertório, e pega a “Ladeira da preguiça”, antiga parceria da dupla Roberto e Erasmo lançada por Wanderléa há dez anos.

A pegada de Erasmo está mais para o samba-rock do Trio Mocotó do que para as rodas do Cacique de Ramos. Seus irresistíveis sambas mostram que ele se sai muito bem fora do rótulo de roqueiro sem precisar deixar de lado a guitarra. Eternamente jovem Erasmo se permite ousar e se jogar em outros batuques.