Com uma discografia que sempre passeou entre as músicas do Brasil e da França, o cantor Fábio Jorge lança “O tempo”, seu quinto álbum. O disco fala com delicadeza de tempos difíceis, isolamento social, perdas importantes. Mas sempre com voz de afeto e aproximação.
Primeiro trabalho do artista cantado em português, o disco abre com “O tempo”, de Reginaldo Bessa, e fecha com “Tempestade”, de Zélia Duncan e Christiaan Oyens. “O medo correndo nas veias deixou tanta vida para trás”, canta na primeira música. As dez faixas falam sobre esse período do mundo em uma nuvem de palavras e sentimentos que passa por afeto, medo, cuidado, transformações.
“Esse disco partiu de uma necessidade emergencial de externar sentimentos”, entrega o cantor em texto publicado no encarte da edição física. “Eu sempre achei que a música fosse um passaporte para o entendimento de algumas questões existenciais”, completa.
Única música cantada em francês no álbum é “La mamma”, composição de Robert Gali eternizada por Charles Aznavour. Fábio Jorge oferece essa gravação para sua mãe, que faleceu em decorrência da Covid. O álbum segue leve, próximo, intimista com músicas como “Cuide-se bem” (Guilherme Arantes), “A paz” (Gilberto Gil e João Donato) e “Canção do medo” (Gianfrancesco Guarnieri e Toquinho). Samba com letra que exorciza tempos difíceis, “Tá escrito” (Xande de Pilares, Gilson Benini e Carlinhos Madureira) ganha um arranjo surpreendente para destacar a letra exalando otimismo: “Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé / Manda essa tristeza embora / Basta acreditar que um novo dia vai raiar / Sua hora vai chegar”, garante.
A gravação seguiu a nova ordem mundial, com poucas pessoas envolvidas. Joan Barros assina os arranjos e assume diversos instrumentos entre violões, baixo, percussão. Passam ainda Alexandre Vianna no piano, Rovilson Pascoal na guitarra e Thadeu Romano no bandoneon. A cantora e compositora mineira Consuelo de Paula é convidada especial para cantar com Fábio Jorge “Porta estandarte”, de Geraldo Vandré.
“O tempo” é um abraço amigo, é um conselho próximo. O álbum é a carta de um intérprete que deixa registrado seu legado de afeto em tempos difíceis.