Quando tudo parece desmoronar e andar pra trás, o futuro está de volta com uma nova reunião do grupo Rumo. O lendário coletivo (antes dessa expressão existir) da vanguarda paulista lança seu novo CD “Universo”, em edição caprichada do Selo Sesc.
O grupo se desfez no início da década de 1990. Na verdade não se desfez, se espalhou em carreiras solo (que já aconteciam paralelo). Liberdade, novos caminhos, outras linguagens, mais estradas. Algumas reuniões especiais: um DVD em 2004, um disco quase-Rumo assinado por Geraldo em 2010, até que em 2019 chega esse novo Rumo. Renovado, como sempre. Maduro sem deixar de ser jovem. O Brasil moderno que ficou ali atrás, mas não ficou esquecido.
Concreto. Libertário. Literário. Musical. Pós-Tropicalista com toda razão. O Rumo é uma reunião perfeita, alquimia artística dessas únicas. O Rumo é um ser diferente. Não é igual a seus membros em carreira solo, não é igual aos companheiros de vanguarda, não é igual ao que veio antes e ao que vem depois. O Rumo se completa, preenche a lacuna criada por eles próprios.
É preciso um certo tempo para se acostumar, para se entender, para se movimentar nesse lugar do Rumo. Mas de cara a paixão é avassaladora. Certeza de que algo muito diferente e criativo acontece aqui. Hoje a receita já pode ser melhor assimilada para quem teve a sorte de encontrar o grupo antes. Mas a surpresa está garantida nesse universo de idéias.
“Toque o tambor / Toque até bombar / Toque pra se impor / Toque até tombar / Toque pra tocar”, anuncia na faixa que abre o disco composição com a assinatura e marca de Luiz Tatit. Seguem composições assinadas pelo grupo: Zecarlos Ribeiro, Ná Ozzetti, Paulo Tatit, Pedro Mourão e Hélio Ziskind. A trupe completa conta com Geraldo Leite, Akira Ueno e Gal Oppido – fotógrafo que também assina o caprichado projeto gráfico com a incrível capa prateada.
Os assuntos seguem a fórmula do seriado Seinfield: o cotidiano visto sob lentes especialíssimas. Um passeio na Paulista, a espera pela senha de atendimento, conselhos para um filho, fuebol, e até a hora de relaxar. Tudo vira arte.
Ná Ozzetti, voz sempre genial, em qualquer tempo em qualquer lugar. Sua interpretação brilha em “Estaca”: “O que sei o que sou o que era antes / Está em você está em destaque / Estão tão distante / Está!”. Ela também é parceira de Luiz Tatit na deliciosa “Dengo”, que canta com sua levada única. Pedro Mourão e André Mourão assinam e são as vozes de “História da história”: “Mesmo que eu não saiba toda história direito / Mesmo que eu não tenha todo direito de contar / Eu não posso deixar passar”. “O tempo pára / Pra quem espera”, devolve Luiz Tatit em “Maldade do tempo”, fechando o disco. O tempo do universo.
Não se esqueça: parece incrível mas a história do Rumo já soma quarenta e cinco anos. O tempo passou e o grupo continua novo.
É singular!
É um grupo novo!