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João Fênix traz “Gotas de sangue” em tempos de delicadeza

Em tempos tão duros para o mundo, João Fênix respira pelo caminho da delicadeza – mas sem economizar nas emoções. “Gotas de sangue”, novo trabalho do cantor pernambucano, é um recital voz e piano que divide com o brilhante pianista Luiz Otávio. Lançado pela Biscoito Fino, o álbum segue um roteiro que decorre sobre a fragilidade masculina.

 

João Fênix surgiu para o público no início da década de 2000. Por causa de seu raro timbre de contratenor sempre foi comparado com Ney Matogrosso – que, reforçando os laços, participa de seu álbum de estreia. Quando a recente empoderada onda de artistas ligados ao universo LGBTQIA+ chegou abrindo novas portas, Fênix já tinha história e quase duas décadas de carreira, em uma espécie de elo de ligação entre o desbunde libertário dos anos 70 e a geração que vem gritando – alto – contra preconceitos.

 

Mas Fênix nunca seguiu pelo lado do discurso sociopolítico, é um artista essencialmente com a música na alma e os dois pés no teatro. Como seu nome artístico já aponta, a cada trabalho constrói um personagem diferente, ligando de forma coerente o álbum e o palco. Sempre com presença grandiosa e exuberante, o novo movimento de se despir musicalmente é mais uma vez surpreendente e coerente com os tempos atuais. Minimalistas como devem ser os encontros, questionando comportamentos e apontando caminhos – sempre no plural.

 

Quando a pandemia parou todo o mundo, Fênix construía um trabalho de duetos, que fica guardado para os próximos capítulos. No momento atual a cena mostra sua voz cristalina e o piano sentimental de Luiz Otávio sem maquiagem pesada. O álbum, gravado em apenas cinco dias, teve produção do maestro Jaime Além, parceiro de Fênix desde seu primeiro trabalho.

 

O roteiro expõe emoções passando por composições de Ivor Lancelotti, Roque Ferreira, Roberto Carlos, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Dolores Duran e – claro – Angela Ro Ro, autora da canção que batiza o projeto e fecha o álbum. Nesse ambiente de nomes já consagrados, João Fênix inclui o jovem Zeca Veloso, autor e intérprete original de “Todo homem”. A música, que ficou conhecida no falsete do compositor, ganha nova dimensão com João Fênix explorando tons graves na emocionante interpretação. A música ganhou um clip no mesmo dia do lançamento do álbum.

 

O novo personagem de Fênix impressiona. Sozinho com o piano, sua voz busca explorar novas regiões, a interpretação vai ainda mais para a frente, deixando mais nítidos os detalhes e as nuances. Valorizando sempre a palavra, fio condutor do repertório que exalta a fragilidade masculina. “Todo homem precisa de uma mãe”, repete o refrão da música de Zeca Veloso. “Diz que eu estive por pouco / Diz a ela que eu estou louco / Pra perdoar / Que seja lá como for / Por amor / Por favor / É pra ela voltar”, suplica em “Desalento”.

 

A viagem sentimental de João Fênix e Luiz Otávio conduz o ouvinte a esse roteiro com questionamentos, construindo um personagem que expõe sua fragilidade para chegar ao convite: “Não tire da minha boca esse beijo / Nunca confunda carinho e desejo / Beba comigo a gota de sangue final”, na composição de Angela Ro Ro que fecha a cortina e batiza o álbum.

 

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One thought on “João Fênix traz “Gotas de sangue” em tempos de delicadeza

  1. Carlos Navas disse:

    Sou muito fã do Fênix e o agradeço por me apresentar este pianista incrível. Parabéns pelo novo disco ! Carlos Navas

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