A pandemia que trancou todo mundo em casa trouxe sérios prejuízos para quem faz cultura – isso todo mundo sabe. Mas alguns artistas procuraram olhar o mundo através da arte, e aí está o caso de Lô Borges. Em um isolamento inquieto e produtivo o cantor compôs dez parcerias inéditas com o irmão Márcio Borges depois de um hiato de dez anos. O resultado está no álbum “Muito além do fim”, lançado pela Deck.
Só pela quantidade de clássicos no currículo da dupla formada pelos irmãos Mário e Lô Borges já valeria a atenção curiosa para a nova safra. Dessa parceria nasceram hinos que de Minas falam para o mundo como “Um girassol da cor de seu cabelo”, “Clube da esquina”, “Tudo que você podia ser” e “Para Lennon e McCartney” – essa com adesão preciosa de Fernando Brant.
Depois de um hiato de nove anos sem compor juntos, os irmãos chegam com uma coleção de dez músicas inéditas – criadas sem nenhum encontro físico, mas com a sintonia que vem da longeva parceria. O álbum “Muito além do fim” é um trabalho vigoroso, com pé no rock-mineiro, das guitarras que fizeram cabeças no clube da esquina. Um disco de banda com a voz de Lô na frente de interpretações vigorosas feitas com um power-trio formado por Henrique Matheus (guitarra), Thiago Corrêa (contrabaixo, teclado e percussão) e Robinson Matos (bateria).
“Enquanto o mundo vai girando / viajo muito além do céu”, canta na irresistível “Muito além do fim”, duo com Paulinho Moska que foi lançado como single para esquentar o disco e que volta abrindo os trabalhos. “Eu penso na solidão / Mas sinto apenas / As cordas do violão / Em outra cena / De vida e morte / A dor esmaga / Eu quero ver onde isso acaba”, crava em “Muito querida”. “Só amor eu ponho em meu canto / Não tenho bem mais precioso”, garante – com razão – em “Canções de primavera”.
Os irresistíveis sons de Minas ecoam do Clube da Esquina para além. Chegam em 2021 com urgência nas mensagens, na criação, nas canções. Do violão de Lô, da caneta de Márcio, com a marca da dupla.