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Ney Matogrosso coloca “Bloco na rua” com discurso de liberdade

Em janeiro de 2019 Ney Matogrosso lançou sua nova turnê, colocou o “Bloco na rua” partindo do Rio para uma série de shows que viajou o país, passou pela Inglaterra e Portugal antes de virar DVD. Como Ney gosta o show foi sendo testado no contato com o público, teve (poucas) mudanças antes de ganhar um registro cinematográfico. Nesse fim de ano a Som Livre coloca no ar os vídeos e os áudios nas plataformas digitais, prometendo para breve edições em CD e DVD.

“Bloco na rua” vem na seqüência de “Atento aos sinais”, turnê mais longa da trajetória de Ney, que viajou durante cinco anos. A empatia do publico com o novo show foi ainda mais imediata, com uma série de sessões esgotadas. O roteiro – desenhado por Ney dois anos antes, ainda durante a turnê anterior – acabou sendo um retrato do Brasil atual. Nada planejado, apenas a visão livre de quem não enxerga fronteiras. Nenhuma surpresa para um artista que, em plena linha dura da década de 70, enfrentou e ameaçou um regime autoritário que silenciava artistas. O rebolado de Ney foi uma afronta aos que marchavam para a escuridão e colocavam antolhos na população.

No DVD, que esteve disponível na íntegra no Youtube durante o fim de semana de lançamento e agora vem sendo publicado música a música, vemos Ney no palco de um teatro sem o público. A gravação ao vivo permitiu que as câmeras do diretor Felipe Nepomuceno pudessem chegar mais perto, propor novos ângulos, efeitos e closes generosos. “Bloco na rua”, o DVD, flerta com cinema. As cenas do show se fundem com as imagens projetadas no palco, criadas especialmente por Luiz Stein e Marcus Paulista.

Ney veste um único figurino, criado pelo estilista Lino Villaventura. Segue ao lado da banda que fez a turnê anterior com  Sacha Amback (direção musical, arranjos e teclados), Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussão), Dunga (baixo), Mauricio Negão (guitarra), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone).

O repertório traz muitas referências aos anos 70, década criativa com a arte em busca de liberdade. O clássico de Sérgio Sampaio batiza e abre o roteiro, preparando para um desfile de discursos atualíssimos presentes na obra de Rita Lee (“Jardins da Babilônia”), Caetano Veloso (“Como dois e dois”), Raul Seixas (“A maçã”), Ednardo (“Pavão mysteriozo”), da dobradinha de Milton Nascimento com Fernando Brant (“Coração civil”) e do grito de João Ricardo e Solano Trindade que amargou anos na preso na censura: “Tem gente com fome! Tem gente com fome! Tem gente com fome!”.

Comprometido apenas com o que gosta de cantar, Ney traz uma recente de Chico Buarque (“Tua cantiga”), visita duas parcerias de Itamar Assumpção e Alzira E (“Já que tem que” e “Já sei”, essa também assinada pela poeta Alice Ruiz) e traz as questões de Moska e Billy Brandão: “O que você faria se só te restasse um dia?”. Ney também resgata duas músicas do compacto que dividiu com Fagner em 1975 : “Postal de amor” e “Ponta do lápis”.

Assim como Rita Lee, Ney Matogrosso nunca abraçou o discurso da política partidária, da música de protesto ou dos panfletos óbvios. Através das letras das músicas que escolhe pra cantar, de sua postura livre, Ney forma uma obra (política sim) de liberdade e igualdade. Sem um texto sequer “Bloco na rua” diz o que muitos discursos não conseguem. “Deixa os acomodados que se incomodem”.

 

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