A quarentena que tirou Alceu Valença da estrada levou o artista para o violão. Alceu lançou nesse mês de março o primeiro álbum de uma série de três que gravou entre novembro de 2020 e janeiro de 2021 no estúdio da gravadora Deck, no Rio. “Sem pensar no amanhã”, que já está em todas as plataformas digitais, é o primeiro trabalho no estilo voz e violão do artista e tem produção assinada por Rafael Ramos.
Desde sempre elétrico e inquieto, Alceu Valença aproveitou o isolamento da pandemia para tocar violão. Apesar de compor no instrumento e usar em shows, o artista conta que nunca foi de ficar constantemente tocando. Nesse período de isolamento criou nova relação com o instrumento e, em casa, foi redescobrindo a obra, criando novos caminhos no seu violão e apurando a técnica diariamente. Desse laboratório caseiro veio a ideia de ir para estúdio registrar o momento.
Alceu desenhou o álbum como um roteiro de cinema: a seleção e a ordem das músicas segue uma história criada por ele com locações, personagens, climas e figurino. “Gosto de inventar um roteiro em meus discos e mesmo nas apresentações ao vivo”, conta Alceu no texto que apresenta o lançamento. “Um álbum pode ser pensado como uma viagem ou um filme. A câmera vem da praia de Boa Viagem em ‘La Belle de Jour’, sobrevoa igrejas de Olinda em ‘Mensageira dos Anjos’. Viajamos no ‘Táxi Lunar’, no trem da ‘Estação da Luz’, vamos até a ilha de Itamaracá e a praia de Marinha Farinha com a ‘Ciranda da Rosa Vermelha’. A música leva a lugares onde a quarentena nos impede de chegar”.
Em onze faixas Alceu faz um passeio que inclui clássicos, músicas do lado B e até uma inédita. Abre com “La Belle de Jour”. Pela primeira vez Alceu gravou “Táxi lunar”, parceria com Geraldo Azevedo e Zé Ramalho que é hit certo em seus shows. Mesmo sem a pegada de sua banda, só com seu violão, Alceu acelera o táxi como costuma fazer ao vivo – e voa. O repertório traz surpresas, e a maior é “Sem pensar no amanhã”, inédita que batiza esse primeiro trabalho da safra de 2020/2021.
“Sem pensar no amanhã” abre a série que promete mais delícias. Ouvir a relação de Alceu com seu violão é estar mais perto da criação de sua obra, despir a festa e concentrar a atenção na poesia de suas letras e nas melodias que ele cria. As músicas ganham novo significado e criam uma atmosfera intimista. Quem está ouvindo, de repente, entra no isolamento da casa de Alceu e é convidado para um show particular, único. Privilégio.