Odair José está de volta em sua versão roqueiro indie com o álbum “Hibernar na casa das moças ouvindo rádio”. Inquieto, contestador, irônico e sem limites, o artista volta a experimentar como fez em plena época de grande sucesso, quando foi perseguido pela censura e até pela igreja pela ópera rock “O filho de José e Maria”.
Odair José encontrou o sucesso popular na década de 70 como cantor brega, rei das AMs. Desde 2015, porém, aproveitou a liberdade do mercado independente e se reinventou como roqueiro (que na verdade sempre foi). O novo álbum é o terceiro dessa fase iniciada em 2015 com “Dia 16” e que seguiu no ano seguinte com “Gatos e ratos”.
O disco é cortado por um locutor de rádio, personagem encarnado pelo impagável músico e eterno VJ da MTV Luiz Thunderbird, que pontua as músicas como se fosse uma história. O longo título vem da junção das faixas que abrem o disco: “Hibernar”, “Na casa das moças” e “Ouvindo rádio”.
O universo de temas continua transgressor: Odair fala abertamente sobre sexo, figuras marginalizadas, sociedade e política. Em “Chumbo grosso”, com participação especialíssima do grupo As Bahias e a Cozinha Minieira, diz: “O assunto agora é a cultura da bala / Na falta de argumento a solução é uma vala” para terminar com o locutor da rádio profetizando: “O terceiro mundo vai explodir”. Antes da música a rádio deu o aviso: ” “incrível liquidação de armas de fogo. Você pediu? Agora chupa”. Outro convidado especial é Jorge du Peixe (Nação Zumbi), que aparece em “Imigrante mochileiro”.
Na faixa que abre o disco Odair canta: “Vou me hibernar por um tempo, me avise quando a cena mudar / O mundo está de ponta cabeça, espera ele aprumar”. Mas o que ele tem feito é justamente ao contrário. Aproveita toda a confusão para criar, contestar, gritar. Tem algo mais rock and roll? O disco fecha com a balada “Liberdade” que volta para a casa das moças e garante: ““Vai ser tudo de graça, e vai ter muita fartura / já tem gente na praça esperando a abertura”.
As personagens que desfilam pelo disco de Odair José estão no caos urbano, na noite, na cidade, na vida. Estão livres, à margem das hipocrisias da sociedade. No quarto casa das moças, na praça, na boate, na estrada. Todos ligados pela – e na – rádio de Odair José.