Com coragem e ousadia a cantora e compositora Patricia Mellodi reuniu amigos em um pocket show para apresentar seu próximo trabalho, “Dois deuses e eu”. A apresentação, que aconteceu no Estúdio Eco Som no Rio, foi transmitida pelo Youtube dois meses antes da previsão de lançamento oficial do álbum.
É hora de compartilhar. “Tô com pressa de mostrar esse trabalho, não estou aguentando”, revelou com bom humor durante o show. Em tempos de tanto ataque a cultura e artistas, Patricia vai na contramão mostrando um álbum autoral feito fora da curva, sem fórmulas. Abre mão de refrões pegajosos, recriações de antigos sucessos ou canções de amor adolescente. Nem por isso perde a capacidade de comunicação direta com o público.
O novo repertório tem um forte lado político, urgente, atual. O discurso é do ponto de vista de uma mulher, artista, piauiense que adotou o Rio há muitos anos mas nunca perdeu seus laços. Tanto que nesse trabalho mostra forte ligação com ritmos do Nordeste pop brasileiríssimo, muitas vezes com clara influência de Lenine e ecos de xote, reggae, forró e baião. A formação enxuta traz Patricia (composições, violão e voz), Alexandre Rabello (baixo, percussão e produção) e Élcio Cafaro (Bateria). Os três se mostram afinados e afiados na célula sonora de “Dois deuses e eu”.
O repertório inédito foi basicamente composto nos últimos dois anos, mostrando o que Patricia quer falar. “Preciso cantar mesmo em momentos assim”, anuncia em “Pode parar”. Em “Vontade” tem a intervenção do poeta Jorge Salomão, com discurso afinado com ela: “Levantando bandeiras / Criando passagem entre as pedras / Afinando o som”. Ela responde: “Eu quero total liberdade”. “É pra lá ou pra cá / Em cima do muro eu não posso voar”, canta em “Em cima do muro”, única parceria do álbum, assinada com o poeta Alexandre Lemos.
Única regravação (da própria lavra) é a música “Fim de mundo”, que foi gravada em dueto por Fênix e Ney Matogrosso em 2001. Mas volta aqui pela força de sua letra, que segue cada vez mais atual: “Mãe vê se mostra pra eles / Que o simples fato de cantar já tem valor”.
Em seu quinto trabalho Patricia Mellodi sabe que é preciso resistir e vai para o mundo armada de novas canções, ideias de igualdade e humanidade. A música salva.