Comemorando os 90 anos de Cauby Peixoto, a gravadora Sony Music disponibiliza um generoso pacote de lançamentos do cantor no formato digital. Com curadoria do jornalista e produtor Rodrigo Faour – biógrafo de Cauby – a seleção traz muitas raridades, como os discos dos primeiros 20 anos de carreira de Cauby. São 18 álbuns e mais 32 produtos entre compactos e 78 rotações.
Entre 1953 e 1971, Cauby lançou grande parte de sua discografia entre as gravadoras Columbia e RCA Victor – hoje ambas incorporadas ao acervo da Sony. “Trata-se de uma discografia tão extensa que se torna até difícil de explicar quantos discos o Cauby gravou”, conta Rodrigo no texto que apresenta o lançamento. “Ele passou pelas mais variadas mídias. Gravou em bolachões de 78 rotações, passou aos LP de dez polegadas, com oito faixas; depois aos 12 polegadas, com doze; enquanto também lançava singles em compactos simples e duplos, até chegar à era do CD e DVD. E ainda teve a sorte de ter a voz nos trinques desde a sua estreia em 1951 até a sua morte, em 2016”, explica o produtor.
A ampla seleção é farta em raridades que aparecem pela primeira vez nas plataformas digitais. Cauby gravou desde boleros, sambas, bossa nova, música latina, marchinhas de carnaval e até rock (leia mais abaixo). Para contextualizar todo esse material e mostrar a amplitude da carreira de Cauby, Rodrigo ainda preparou quatro playlists temáticas: “Cauby romântico e popular”, “Cauby internacional – Volta ao mundo com Cauby”, “Cauby versátil – De todos os ritmos” e “Cauby chique – Bossa Nova, sambalanço e muito swing”.
São mais de 200 faixas que mostram a força e importância de Cauby Peixoto, cantor que foi chamado por seus colegas de “o professor”.
Raridades para todos os gostos
por Rodrigo Faour *
“Algumas raridades, já havia reeditado na coletânea em CD ‘A bossa e o swing de Cauby’, que produzi em 2004, mas que agora aparecem pela primeira vez em streaming, incluindo o primeiro rock composto no Brasil, ‘Rock’n’roll em Copacabana” (Miguel Gustavo), de 1957, e canções que ele cantava em sua própria boate, Drink, que arrendou entre 1964 e 68 no mesmo bairro que inspirou nosso rock pioneiro, tais como ‘People’, sucesso de Barbra Streisand, e vários sambalanços, como ‘Tamanco no samba’, de Orlandivo e Helton Menezes, e bossas como ‘Samba do avião’, de Tom Jobim, que ele teve a primazia de lançar, e ‘Canto de Ossanha’, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, famosa na voz de Elis Regina.
Estas joias agora se somam a outras ainda mais raras, como sua gravação de ‘Berimbau’, mais uma da referida dupla de autores, e ainda um samba-canção consagrado na trilha do filme ‘Orfeu negro’ (‘A felicidade’), outro pouquíssimo conhecido composto por Dolores Duran (‘Me deixa em paz’), um clássico da bossa nova romântica de Eumir Deodato e Paulo Sérgio Valle (‘Razão de viver’), um bolero que remete ao glamour de Copacabana dos anos dourados (‘Drink na praia’, de Luiz Antônio e Gilberto Panicalli), dois belos e autênticos fados (‘Lisboa antiga’ e ‘Canção do mar’) e músicas que se tornaram conhecidas pelos filmes estrangeiros que aportavam no país, como ‘La violetera’ (na voz de Sarita Montiel), “Al di la” (do filme ‘Candelabro italiano’, que virou ‘Muito além’) e ‘Anastasia’ (hit de Pat Boone na película homônima).
A lista de raridades inclui algumas inusitadas canções latinas (‘Mambo do galinho’ e ‘O louco’) e boleros muito românticos de Evaldo Gouveia e Jair Amorim (‘Depois de ti’, ‘Sentimental demais’, ‘Que queres tu de mim’, ‘E a vida continua’, ‘Ave Maria dos Namorados’ – esta é um grande sucesso do cantor, em 1963, até então indisponível em digital). Há ainda canções românticas que defendeu em filmes nacionais (‘Melodia do céu’, ‘Onde ela mora’), animados foxes (‘Outro dia virá’), canções tradicionais brasileiras (a valsa ‘As três lágrimas’, de Ary Barroso e o samba ‘Chora cavaquinho’, de Dunga, mesmo coautor de ‘Conceição’) e um divertido repertório carnavalesco, que vale como crônicas de época. São marchinhas como ‘Mil mulheres’, ‘Cabo frio’, ‘Lambuzando o selo’ e ‘Quebranto’; e sambas, como ‘Palácio de pobre’ e “Nem toda flor tem perfume”. Entre as raridades, há até mesmo uma regravação da canção favorita do repertório de sua amiga Angela Maria, ‘Gente humilde’, e um baião, sua gravação de estreia na Columbia, em 1953, ‘Caruaru’”.
* texto incluído no release de apresentação do projeto.