Depois de um show/álbum voz e violão dedicado a obra de Cartola, Teresa Cristina levou para os palcos um novo recital de samba. Dessa vez a cantora focou seu repertório na riquíssima obra de Noel Rosa. Teresa está ao lado do violão de Carlinhos Sete Cordas e com produção assinada por Caetano Veloso. Gravado em 2019 o show virou especial de TV e um álbum ao vivo nas plataformas digitais.
Corte para o inacreditável ano de 2020. Durante o isolamento social Teresa Cristina foi coroada por um público (imenso e ainda crescente) como Rainha das Lives. Diariamente durante o fim de noite – e muitas vezes avançando pela madrugada – Teresa recebe convidados para cantar e conversar, compartilha afeto, carinho, música, informação, críticas ao governo, cerveja e salgadinhos.
Mas esse espírito agregador vem de antes. Há cerca de duas décadas o público carioca viu uma tímida Teresa Cristina, de canto elegante, praticamente nascer nas rodas de samba do Bar Semente, em plena efervescência do renascimento da Lapa – bairro tradicionalmente boêmio no centro do Rio. Logo depois Teresa Cristina lançou um badalado álbum duplo com a obra de Paulinho da Viola – referência imediata pra quem a ouvia no charmoso bar cantando. A discografia da cantora seguiu com sambas, mas também mostrando que sua voz era mais plural. Mostrou suas composições, dividiu palco com outros artistas e até cantou rocks de Roberto Carlos.
Como sempre em seus projetos, mesmo em releituras, Teresa coloca seu olhar. O repertório escolhido entre o amplo cancioneiro de Noel traz assuntos que ligam a cantora ao compositor. “Me chamou atenção: O Rio de Janeiro, os cabarés, a malandragem, a mulher, a relação homem x mulher, a maneira como ele via as coisas. O Brasil apontado em suas músicas detalha as situações sociais e políticas de uma época, ainda muito real, mas que fez diferença e deu a cara do que é o samba hoje”, resume Teresa em depoimento incluído no texto que apresenta o novo trabalho para a imprensa.
No álbum sua voz passa por clássicos como “Três apitos”, “Com que roupa”, “Último desejo” e “Palpite infeliz”. Junta “Pra que mentir” com “Dom de iludir” de Caetano numa rápida licença ao homenageado, divide com Mosquito “Minha viola” , e faz um carnaval voz e violão juntando “O orvalho vem caindo”, “Pierrot apaixonado” e “A.E.I.O.U.”. Teresa não deixa de lado músicas menos conhecidas como as atualíssimas “Onde está honestidade?”, “Positivisto” e “Seja breve” – crônicas perfeitas para o denso Brasil 2020, quando ela assumiu um protagonismo do lado leve, lúcido e lúdico da história.
Em novo patamar de visibilidade, Teresa tem agora uma imagem mais próxima ao público. Dona de um dos espaços mais festejados nesse período, Teresa Cristina traz ainda mais ouvidos para festejar a obra de Noel e o nobre repertório que ela gravou ao longo da carreira.