A pandemia não paralisou Zélia Duncan, que transbordou suas dúvidas e seus sentimentos em arte. Em busca de novidades, no isolamento social a cantora e compositora abraçou um novo parceiro. O álbum “Pelespírito” – lançado pela Universal Music – apresenta quinze composições inéditas feitas com o compositor e produtor pernambucano Juliano Holanda. Segundo trabalho lançado por Zélia nesse período, o novo disco tem clima introspectivo para falar sobre questões e sentimentos que ganharam o mundo nesse período. Falando de sua vida, Zélia fala por todos.
Inquieta, curiosa e ousada, há muito tempo Zélia Duncan já deixou de lado a diferença entre os discos de carreira e projetos paralelos. Com o público fiel conquistado, Zélia foi aos poucos mostrando todos os lados, se transformando em outras em cena aberta. A diversidade de ideias e sons foi bem aceita e sua plateia passou a sempre esperar surpresas. Generosa, Zélia divide com seus fãs o que ouve: dos ídolos do rádio pré-bossa nova aos heróis modernos da vanguarda paulista. A única certeza que o público tem é que Zélia não vai trazer nada superficial ou óbvio. E a surpresa é bem-vinda. Tanto que apenas três meses depois de lançar um álbum com o repertório de Alzira E, Zélia vem com essa coleção inédita com um parceiro recente. E como em um noticiário psicológico, filosófico e poético, eles falam o que o mundo sente e vive.
“Pelespírito” é um álbum com olhar para dentro. Até por isso simples em sua produção musical basicamente acústica. Cada um gravando em estúdios separados: Zélia e Webster Santos em São Paulo, Juliano Holanda no Recife, Léo Brandão em Curitiba, Christiaan Oyens em Londres e Ézio Filho no Rio de Janeiro. “Pelespírito” promove esse encontro que ignora a geografia, e coloca todos juntos no mesmo sentimento, na mesma sintonia.
As parcerias também nasceram sem um encontro presencial. No vai-e-vem de mensagens por WhatsApp Zélia e Juliano se conectaram e criaram a obra inicial. Os assuntos são os que vêm movimentando todo o mundo. “Ando sensível, coração na boca / Na varanda a ver navios”, revelam em “Onde é que isso vai dar?”, que nasceu a partir de uma conversa entre os dois, mensagens virando versos. “Há dias dormentes, febris, ardentes de nada / Há dias que são noites caladas / Nos querem sem palavras”, diz em “Passam”. O disco fecha com otimismo com “Vai melhorar”: “Ali no horizonte tem um mar infinito / Foi feito pra isso / Pro nosso olhar seguir / Pro nosso querer não ter fim”.
As músicas de “Pelespírito” falam do íntimo dos artistas e, por isso, se conectam com o mundo vivendo em dúvidas, conflitos e dor. O álbum fotografa esse período e se torna um documento para a posteridade, quando tudo passar. “Um dia vai ser bem melhor”, ela garante no final do álbum. O ouvinte sabe e – ainda em casa – repete em coro, com esperança.