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China faz seu manifesto de resistência

O cantor e compositor China lança o álbum “Manual de sobrevivência para dias mortos”, com produção assinada por Yuri Queiroga. As onze faixas estão disponíveis para todos: nas plataformas digitais, para download gratuito no site do artista e também em CD. É para ouvir.

A cena musical pernambucana sempre foi fértil e ousada. Desse pólo criativo do Recife, o cantor e compositor China é artista interessantíssimo surgido ainda no final da década de 1990 como vocalista da banda Sheik Tosado e em carreira solo desde 2004. Seu nome é muito lembrado por sua passagem como (ótimo) apresentador da MTV e do Multishow. Mas seu ofício é na música, mesmo em períodos de entressafra, quando por exemplo criou a ótima série “Ócio criativo” em seu canal no Youtube.

Gravado entre 2017 e 2018, o novo álbum chega com carga acumulada dos assuntos diários. China despeja opiniões, expõe feridas e grita contra o retrocesso do Brasil versão 2019. Para acompanhar melhor o encarte digital (também disponível no site www.chinaina.com.br) ajuda com as letras das músicas para tudo ficar mais claro. É pra entender.

As letras estão cheias de idéias, sacadas e alertas. “A polícia vai brincar de Deus nesse inferno sub-tropical”, dispara em “Vivo?”, que abre o álbum. Em “Moinhos do tempo” o discurso fica na voz e nos versos cortantes da poeta Bell Puã: “que o sonho americano não seja o pior pesadelo da América Latina”. “O ser humano é um processo que evolui para trás” diz em “Selvagem”. “Vamos lá retroceder porém render-se jamais”.

A diversidade de ritmos marca o álbum. O rock pega pesado em “Fascismo tupinambá” para urrar contra o “cidadão de bem”: “Sob as leis todos são iguais, a diferença é quem paga mais”.  Ecos do mangue beat entram na seqüência em “Consumo”.

Até uma boa balada com pitadas eletrônicas e tom romântico entra no contexto atual: “São doses diárias de certeza e medo pra me mostrar o quanto é frágil viver”, canta em dueto com  Uyara Torrente, vocalista da A Banda Mais Bonita da Cidade. No final volta ao rock em “Frevo e fúria” fazendo o carnaval-punk-metal com a guitarra do sepultura Andreas Kisser: “É proibido pensar, falar, informar. É proibido pensar, calar, se esquivar”.

Cheio de assunto, transbordando idéias e desobediência, China faz seu protesto necessário, lúcido e criativo. “Manual de sobrevivência para dias mortos” é retrato da resistência em um país que elege como inimigos artistas, pensadores e educadores.

“Tudo é uma questão de se manter alerta e vivo”, canta em “Entre coronéis”.

 

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