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Clássicos de Rita Lee e Roberto ganham novas leituras por DJs

Há cerca de oito anos o DJ e produtor João Lee começou a sonhar e bolar um banho de remix na obra que viu nascer em casa, os clássicos do pop brasileiro de Rita Lee e Roberto de Carvalho. Entre planos, conversas e projetos, há dois anos colocou a mão na massa efetivamente. O resultado começou a ser conhecido nesse abril de 2021 com o primeiro (de três) volume da série “Classix Remix”, com um time estrelar de DJs brincando em cima de clássicos do pop brasileiro. Os novos álbuns chegam em seguida, todos pela Universal Music.

 

A obra de Rita Lee e Roberto de Carvalho precisa ser atualizada? Não. A linguagem criada por eles lá no final dos 70/início dos 80 é atemporal, segue elegante e relevante. As músicas podem ganhar nova roupagem? Podem e devem. As gravações originais, antológicas, já fazem parte do inconsciente coletivo de diversas gerações (de antes/durante/depois). Mas a obra é aberta. Assim como é (e sempre foi) a música de Rita e Roberto, que nunca procurou rótulos, prateleiras ou modas. Ao contrário, sempre criou seu próprio tempo/espaço/momento.

 

Corte no tempo. Rita e Roberto fizeram o que talvez seja o primeiro disco de remix no Brasil em 1984, quando juntaram 21 sucessos em dois grandes medleys no álbum “Rita hits”. Um pouco mais tarde, no ano 2000, um time de produtores e DJs da época também entrou em cena recriando as músicas da dupla no álbum “Rita Releeda”. “Classix Remix” é projeto maior e mais amplo, que fotografa a cena de 2021, bem diferente dos anteriores.

 

João Lee escalou um dream team de DJs/produtores do Brasil e do exterior para entrar na brincadeira. O primeiro volume abre com uma arrebatadora recriação de “Mutante” com assinatura de Gui Borato. A pista segue com mais 11 intervenções de hits lançados originalmente entre 1979 e 1985. “Mania de você” aparece em duas versões, uma pelo americano Harry Romero outra em conjunto por dois jovens duos brasileiros: Dubdogz e Watzgood. Para “Cor de rosa choque” uma extensão da família-musical: o remix é assinado por Mary Olivetti, filha do mago Lincoln, presença importante em discos e shows de Rita e Roberto no início dos anos 80.

 

O DJ Marky assina duas versões do mesmo e plural “Caso sério”, uma ressaltando as cores latinas e uma segunda levando para a praia drum and bass. Sucesso que atravessou fronteiras e tem versões em várias línguas, “Lança perfume” vem nas mãos do The Reflex, projeto de Nicolas Laugier, francês radicado em Londres. Já de Nova York vieram os beats “Vírus do amor” por Krystal Klear. Os climas de “Doce vampiro” entram em um filme sombrio com roteiro de Rita e direção de Inner Soto. “Saúde” e “Atlântida”, que já nasceram com os pés nos instrumentos eletrônicos, voltam repaginadas por Tropkillaz e Renato Cohen, respectivamente. Fechando o primeiro volume o duo Chemical Surf põe “Nem luxo, nem lixo” em sua pista.

 

Rita e Roberto não só criaram uma linguagem própria como também estabeleceram padrões muito altos de qualidade na hora de gravar seus discos. Com a popularização das FMs, a dupla procurou se cercar das melhores condições de gravação e mixagem, muitas vezes indo para o exterior gravar ou finalizar os trabalhos. Essa preocupação chega em 2021 nítida na qualidade do material que os DJs tiveram em mãos. Durante as recriações de “Classix remix” aparecem elementos das gravações originais, alguns até mais presentes e redescobertos quarenta anos depois.

 

João Lee, que já participou discretamente de álbuns de Rita e Roberto como “Balacobaco” e “3001”, sela de vez sua parceria com a obra da dupla. “Classix remix” é uma série que não pretende substituir os registros originais, mas somar novas versões e visões na obra que sedimentou conceitos do pop e abre caminhos há quarenta anos.

 

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