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Juba estreia reprocessando a tradição dos ritmos do Nordeste

Artista pernambucano criado entre o Rio e as ladeiras de Olinda, Juba lança seu álbum de estreia, “Ethos”. Editado pela Deck, o disco foi produzido por Junior do Jarro, baterista da banda Anjo Gabriel. Com liberdade para misturar e reprocessar, Juba mostra uma música orgânica e criativa, sem se acomodar em rótulos ou escolas.

 

Juba é filho de Alceu Valença. E essa informação é mais importante do que simplesmente para buscar o DNA na voz e nas composições. A música de Juba tem forte influência de uma linguagem lançada por Alceu na década de 70, cruzando a tradição dos ritmos nordestinos com o timbre da guitarra elétrica. Essa mistura mágica – que Luiz Gonzaga bem definiu como “uma banda de pife elétrico” – serviu de referência para diversas gerações de artistas, incluindo o celebrado movimento mangue beat. E chega em 2020 na música de Juba, reprocessada e com identidade própria.

 

A primeira música do álbum a aparecer em single e clip foi o envolvente xote moderno “Mulher de ethos”, composição de Juba com Verás. Depois veio o “Coco das flores” anunciando a diversidade do trabalho.

 

O disco abre com um frevo psicodélico “Pra brincar o carnaval”, apresentando as cartas de boas intenções. A ordem é misturar, criar, modificar e devolver com digital própria sem nunca beirar o óbvio. Seguem ecos da tradição reprocessados ao longo do álbum. Em “Algoritmos azuis”, composta com Feiticeiro Julião, brinca com a manipulação das redes sociais filosofando com graça e humor, e lembra Jorge Mautner. Em “Bacupari, Cajuí, Cambará”, parceria com Carol Montenegro, convida o Trio Queimando em Brasa para cair num forró mais próximo do tradicional e exaltar a natureza.

 

Da obra de Alceu resgata uma jóia recente: o grito político de “O sertão precisa disso” foi composto para a trilha sonora do filme “A Luneta do Tempo” e aqui vem em uma versão mais pesada incluindo uma fala antológica do roteiro escrito por Alceu: “O poder é irmão da polícia, que é prima carnal do Estado e de uma cega chamada justiça”.

 

O disco tem vigor e pulsa energia. A gravação da base – bateria, baixo, teclado e guitarra – foi toda feita ao vivo e sem metrônomo para deixar o clima livre e orgânico. Com adesão de nomes da rica e fértil jovem cena pernambucana na produção, Juba estreia em um grande álbum que vibra nas boas misturas.

 

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