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Ney Matogrosso comemora 80 anos com EP que anuncia novo trabalho

Ney Matogrosso chega aos 80 anos com incrível vitalidade e disposição, mas em plena pandemia. Pela primeira vez em muitos anos longe da estrada, a data redonda é comemorada com um novo álbum, primeiro de seu recente contrato com a Sony Music. Previsto para ser lançado em novembro, o trabalho ganhou uma amostra no EP “Nu com minha música” com quatro músicas, disponibilizadas no dia do aniversário do cantor, 1º de agosto.

 

Tudo já foi dito sobre Ney Matogrosso. Sua importância na música e na evolução da sociedade brasileira já estão bem documentadas – inclusive como lançamento de uma nova biografia escrita pelo jornalista Julio Maria. Sua postura de enfrentar preconceitos e questionar padrões, sua forma única de enfrentar a truculência e driblar os censores em tempos – também – difíceis. Assim como Rita Lee, Ney é artista que não precisa falar propriamente de plataformas para se posicionar como um ser político. “Eu sou a própria bandeira”, já declarou o artista que nesses quase 50 anos de carreira sempre pregou a liberdade e a diversidade.

 

Ney já foi muito cobrado por não tomar frente em causas e protestos. Mas o artista sabe que não precisa pegar em armas para mudar o mundo. Seu arsenal é mais sutil e ao mesmo tempo toca mais fundo: Ney diz o que quer através das músicas e exemplo mais recente é a turnê “Bloco na rua”, interrompida pela pandemia. Sem um texto além das letras das músicas, Ney faz do palco seu palanque para dizer para o mundo o que pensa, o que quer, o que briga. Suas bandeiras estão ali. Estão em todos os lugares.

 

Ao contrário do processo que vinha fazendo nos últimos anos “Nu com minha música” não nasceu no palco. Durante o recesso forçado, Ney resgatou da memória músicas que tinha a intenção de cantar mas ainda não tinham entrado em nenhum roteiro. Confiou o repertório para quatro produtores diferentes, todos com história e intimidade com o artista, cada um escalando sua própria banda: Sacha Amback, Marcello Gonçalves, Ricardo Silveira e Leandro Braga.

 

Mas a alma de homem atento aos sinais está ali: “Vislumbro certas coisas de onde estou”, canta na composição de Caetano Veloso que abre e batiza o EP, essa pelas mãos do violonista Marcello Gonçalves. A segunda música é “Mi unicórnio azul”, composição do compositor cubano Silvio Rodríguez, aqui com arranjo de piano e violoncelo desenhado com sensibilidade por Sacha Amback. O lado mais pop fica na música dos pernambucanos Lenine e Lula Queiroga com “Se não for amor eu cegue”, com arranjo do guitarrista Ricardo Silveira. Fechando essa primeira amostra, o clássico “Gita” de Raul Seixas e Paulo Coelho, volta pelas mãos de Leandro Braga, que desenha com sopros e cordas.

 

O fio de ligação entre as músicas é Ney Matogrosso. A assinatura artística do cantor é nítida mesmo com a diversidade de produtores. Cada um traz sua colaboração para um grande artista que já conhecem bem. “Nu com minha música” é Ney Matogrosso, a princípio em quatro movimentos. Camaleão que se transforma em diversos personagens que habitam o mesmo criador, Ney comemora 80 anos cantando o que gosta, do jeito que quer e, assim, sendo coerente com o artista que é. “Coragem grande é poder dizer sim”.

 

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