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Premê junta discografia na caixinha

Grupo que misturou choro com rock, Adoniran Barbosa com Moreira da Silva, breque com bom humor, o Premeditando o Breque (ou simplesmente Premê) ganha bem-vinda revisão na “Caixinha do Premê”. Lançada pelo Selo Sesc, a coleção traz a obra completa do grupo em seis CDs com o bônus de um disco inédito com músicas lançadas somente em compactos e material de arquivo.

A produção musical paulistana entre as décadas de 70 e 80 é interessantíssima e ainda pouco ouvida. O movimento que ficou conhecido como Vanguarda Paulistana aconteceu em universidades e pequenas casas de shows e teve registro por selos locais ou lançamentos independentes. Se hoje em dia nomes como os de Itamar Assumpção e do Grupo Rumo são festejados e redescobertos, na época era muito difícil ter acesso a eles fora do circuito USP-Pinheiros-Sesc  – salvo em raras exceções.

Uma dessas brechas foi aberta pelo Premê, que teve discos lançados por grandes gravadoras e até estourou música em novela: “São Paulo São Paulo” esteve em alta rotação na trilha sonora da novela “Vereda tropical”. Mas grande parte da produção do grupo nunca chegou a pegar a ponte aérea. Toda história está muito bem contada em texto assinado pelo jornalista Lauro Lisboa Garcia no livreto que acompanha a caixa.

O bom humor do Premê é nítido nas letras, nas melodias e também nos encartes. No álbum “Quase lindo” (1983) anunciavam: “As músicas ‘Zuleika e Gaspar’, ‘Casa de massagem’ e ‘Saga de Abud Salim’ foram vetadas pela Censura Federal. Motivo: não gostaram muito dos arranjos”. As duas primeiras aparecem no CD “Como vencer na vida fazendo música estranha vol VII” em versões ao vivo da década de 80.

As fichas também desvendam participações curiosas. O carioca Lulu Santos se aventurou a produzir o disco do grupo e tocar guitarras no álbum “O melhor dos iguais”, lançado pela multinacional EMI em 1985. O disco também tem participação de Caetano Veloso.

A cantora Mariana Aydar (filha de Mário Manga, fundador do grupo) marca sua estreia profissional aos onze anos na discografia do Premê, assinando como técnica de som e na lista de participações no disco “Alegria dos homens”, de 1991. “Sempre fiquei por perto, pra mim é uma grande influência”, lembra Mariana. “Só depois de um tempo fui entender que era engraçado porque musicalmente eles são muito raros, eu ficava muito ligada na música e só depois fui entender que a letra era engraçada. Sou muito sortuda de ter convivido com essa vanguarda tão criativa, isso me influencia muito até hoje”, comemora.

A trajetória do Premê mostra um grupo sempre na vanguarda, flertando mas sem se casar com o mainstream e fazendo música inteligente, irreverente e livre. O baú da Vanguarda Paulistana é um capítulo muito rico da música brasileira, na linha tropicalista, e que tem que ser sempre revisto e redescoberto.

 

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