Artista múltiplo, Zeca Baleiro cai no carnaval e solta o verbo em quatro marchinhas falando sobre política e problemas sociais. O compositor lança nas plataformas digitais o EP “Escória” esquentando o clima do baile. Cronista de seu tempo Zeca traz pra festa o grito que está na garganta (e nas redes sociais) de muitos.
As letras não deixam dúvidas e nem procuram em momento nenhum suavizar a raiva. Baleiro brada: “Escória, escória / Nem fudendo vocês vão / Conseguir entrar pra história” na faixa que abre o batiza o EP. A festa é grito sob medida para tempos de ódio e responde ofensas institucionais feitas a baluartes de nossa cultura: “Respeita a Fernanda Montenegro, babaca / Tu saiu de que cloaca? / Respeita o Martinho da Vila, mané / Você não vale nem a sola do seu pé” canta em “Babaca mané”.
Sintonizado com o Brasil 2020, o contexto das músicas não deixa dúvidas e fotografa o período. “O Brasil abriu a tampa do esgoto / Só bichos escrotos / Só ratos, só ratos / Esses diabos querem acabar com tudo / Com a civilidade / Com a nossa alegria”, canta em “Bichos escrotos nº2”. O preconceito social também é foco: “Você não quer dividir o avião / Com pobre, né, irmão? / Se você pudesse você viajava em dois assentos / Seu ego gigante não sabe o que é constrangimento”.
Se o discurso chega perto das bandas de punk rock, o formato musical é o tradicional das marchinhas com direito a naipe de metais e coro feminino. Lavando roupa suja em público, Zeca Baleiro apresenta o repertório no “Baile do Baleiro de Carnaval”, que acontece no dia 6 de fevereiro na Casa Natura Musical em São Paulo.
O carnaval nunca foi para conservadores. Na festa de fevereiro vai ter muita gente bradando os versos de “Escória” quando colocar o bloco na rua. As marchinhas vão entrar pra história como grito do carnaval 2020, fotografia um período muito específico do país, fonte para os historiadores no futuro.