“Tio Gê – o samba paulista de Geraldo Filme”. O título, carinhoso e explicativo, embala um luxuoso projeto editado em álbum duplo pelo Selo Sesc. Produzido por Fernando Cardoso e com direção musical do pianista Ogair Júnior, o disco junta um time de cantores e atores que abraçam a obra do compositor, que faleceu em 1995.
O elenco – todo formado por artistas negros – traz vozes de cantoras como Teresa Cristina, Áurea Martins, Virginia Rosa, Paula Lima, Graça Cunha, Maria Alcina, Xênia França, Graça Braga, Leci Brandão, Amanda Maria, Eliana Pittman, Rosa Marya Colin, Ellen Oléria, Clarianas, Sandra de Sá, Lady Zu, Alaíde Costa, Luciah Helena e Fabiana Cozza. Também traz textos do escritor Leo Lama lidos por Aílton Graça, Sidney Santiago Kuanza e João Aciabe.
“Eu vou mostrar, eu vou mostrar / Que o povo paulista também sabe sambar”. Com esses dois versos Geraldo começa aos dez anos a escrever sua obra: a música “Eu vou mostrar” aqui vem a voz de Leci Brandão. O crescimento desordenado da metrópole, a desigualdade social, o amor, a saudade, a vida, a morte. Em um roteiro musical a história da vida e da São Paulo de Geraldo Filme é contada no álbum. “Quero ser sambista / Ao renascer de novo / Pra cantar a alegria / E a desventura do meu povo”, canta Luciah Helena em “Reencarnação”, fechando com delicadeza o roteiro de 22 composições.
A importância histórica, o resgate e preservação de uma obra tão importante quanto a de Geraldo Filme é o grande ponto de partida desse projeto urgente e bonito. A pluralidade do elenco joga luz na rica tradição do samba paulistano, na história de cultura e resistência da cidade. São Paulo sempre foi berço de ótimos sambistas. Vinte anos depois de sua morte Geraldo Filme é nome importante nessa avenida muitas vezes subestimada, muitas vezes esquecida.
